Três perguntas para Regina Rodrigues, professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Curso de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Quais fatores influenciam a velocidade do degelo das geleiras?
Os fatores principais são climáticos, ou seja, aumento da temperatura do ar e elevação da temperatura da água do mar, nesse caso para os glaciares em contato com ela. Porém, as velocidades de degelo podem variar de um local para outro, e foi isso que esse estudo tentou determinar. Essas variações espaciais são causadas principalmente pelos detalhes da circulação atmosférica e oceânica. Por exemplo, um glaciar marinho na costa sudoeste da Groenlândia que recebe mais água quente do Atlântico Norte por causa da sua localização vai derreter mais rápido do que um na região norte que está exposto a águas mais frias. As variações no derretimento dos glaciares terrestres estão mais ligadas à circulação atmosférica. O estudo ainda concluiu que outros fatores afetam a velocidade, como por exemplo, a exposição e a geometria do glaciar.
Como o aumento do nível do mar pode influenciar no clima ou no meio ambiente global?
A principal implicação do aumento do nível do mar é o gradual alagamento de áreas costeiras. Para o ser humano, o efeito direto é a perda dessas áreas, onde se concentra a maior parte da população. Isso será catastrófico para países como Holanda, Bangladesh e pequenas nações de ilhas, principalmente no Pacífico. Outros efeitos nocivos indiretos virão da destruição de ambientes como mangues e estuários, que têm uma importância enorme para a biota marinha. Mudanças climáticas sempre ocorrem na Terra e os organismos vivos sempre se adaptaram. O problema, agora, é que as alterações que estamos causando são muito rápidas para que a maioria dos organismos possa se adaptar (100 anos é um período muito curto até para nós). Por isso, acho muito nocivo negar o que está acontecendo, pois teremos que nos adaptar. Quanto mais adiarmos, pior vai ser. O aquecimento vai continuar inevitavelmente, porque já falhamos em diminuir as emissões de gás carbônico, que fica na atmosfera por 200 anos.
A pesquisa pode ajudar no desenvolvimento de medidas para a preservação das geleiras?
A única maneira de tentar reverter ou, pelos menos, desacelerar o degelo desses glaciares é diminuindo a emissão de gases do efeito estufa para que o aumento da temperatura global seja o menor possível (idealmente, menos de 2;C). O estudo só mostrou que há variações na velocidade de degelo, mas os fatores que levam ao degelo estão relacionados ao aquecimento global. Em 2010, o aumento da temperatura na costa oeste da Groelândia foi seis vezes maior que o da costa leste. Provavelmente, como resultado, no ano de 2010 houve uma aceleração maior no degelo de glaciares da costa oeste se comparado com os da costa leste. Em outras palavras, o aquecimento global do ar e das águas ainda é o fator determinante do degelo e, sim, há variações geográficas na velocidade desse degelo.