Agência France-Presse
postado em 14/05/2012 15:13
Iraque - Descobertos, mas abandonados pelas autoridades de um país mais preocupado com a reconstrução do que com a arqueologia, antigos sítios do centro do Iraque onde havia vestígios cristãos estão em risco de desaparecimento, explicaram especialistas locais.Três destes enclaves, perto da cidade santa xiita de Najaf, 150 km ao sul de Bagdá, fizeram parte no passado da cidade de Hira, capital da tribo pré-islâmica dos lamides, árabes beduínos cristãos. Hira foi sua capital nos séculos V e VI. O que resta são apenas ruínas.
"É uma área de importância histórica, pois é rica em antiguidades, particularmente ruínas de igrejas, mosteiros e palácios", destacou Shakir Abdulzahra Jabari, que chefiou escavações em 2007, 2009 e 2010.
"Atualmente, há um ano as antiguidades estão descuidadas e não recebem atenção alguma, apesar de muitos países ocidentais estarem interessados na história de Hira, enquanto principal porta de entrada do cristianismo no Iraque", destacou.
Hira era conhecida por seus palácios e mosteiros e as estruturas de suas abadias ainda são visíveis entre as ruínas. "Os cristãos viveram um longo período na região de Hira, onde representavam a terça parte da população da cidade: a tribo Al-Abad era a mais conhecida de suas comunidades", disse Yahya Al Kadhim Sultani, professor da Universidade de Kufa, perto de Najaf.
"Hira se caracterizava por um certo número de igrejas e pela prática de diversas atividades, tanto científicas quanto culturais", acrescentou.
Estes locais demonstram a importância da presença cristã no Iraque, em um momento em que sua comunidade é alvo de ataques violentos por parte de extremistas, que empurraram para o exílio centenas de milhares deles.
Negligência
Hira continuou sendo a capital até o século VII, quando forças leais ao general árabe muçulmano Khalid Bin Al-Walid a conquistaram por ordem de Abu Bakr, sucessor direto do profeta Maomé.
Várias séries de escavações foram realizadas nas últimas décadas, destaca Jabari. Cientistas da Universidade de Oxford exploraram o sítio nos anos 30 e especialistas em antiguidades iraquianos fizeram escavações em 1938, 1956 e 1957.
No entanto, após a invasão do país pelos Estados Unidos, em 2003, e a queda de Saddam Hussein, a pesquisa arqueológica está agora longe e ser uma das prioridades do governo, apesar dos 12.000 sítios identificados em território iraquiano.
As equipes estrangeiras tiveram que abrir mão de explorar o Iraque devido à violência, que diminuiu, mas que continua. Os que chegaram ficam confinados no Curdistão, região iraquiana autônoma do norte, muito mais estável do que o restante do país.
"As escavações na região foram retomadas em 2007, quando as obras de ampliação do aeroporto de Najaf foram realizadas. O primeiro dos três sítios foi descoberto então" e "trabalhamos para preservá-lo do processo de ampliação", afirmou.
Desde então, novas escavações em uma superfície de 3.000 metros quadrados revelaram várias estruturas de barro, cruzes entalhadas nas paredes e um bloco de mármore com a inscrição: "bênçãos de Deus e Deus perdoa os discípulos de Cristo".
Em 2009, o serviço a cargo das antiguidades na província de Najaf anunciou a descoberta de 2.100 objetos arqueológicos como moedas, fragmentos de cerâmica e construções que datam da época da dinastia lamide.
"No entanto, a exploração terminou faz um ano, com o encerramento do projeto por falta de dinheiro. Desde então, nenhum trabalho de manutenção foi feito nos sítios", acrescentou Jabari, que adverte que se continuar esta negligência vai para a "destruição" pura e simples destas antiguidades.