No outono de 2006, John Kheir estava de plantão no Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, quando uma garotinha de 9 meses deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com pneumonia severa. A infecção levou a um quadro gravíssimo: os pulmões estavam se enchendo de sangue e os níveis de oxigênio despencavam a cada minuto. ;Nós não pudemos salvar a criança;, lamenta. Apesar das tentativas de ventilação pulmonar com entubação, a paciente morreu quatro dias depois, vítima de parada cardíaca. ;Aquilo me deixou muito triste e frustrado, e comecei a pensar que ela poderia ter sobrevivido se houvesse uma maneira mais eficaz de liberar o oxigênio no organismo;, diz.
Kheir, um cardiologista pediátrico intensivista, ficou obcecado com a ideia de uma nova tecnologia capaz de lançar o gás de O2 diretamente na corrente sanguínea do paciente. Isso já havia sido testado na década de 1900, mas, tanto em animais quanto em humanos, o método resultou em embolia pulmonar e foi descartado. O médico do Hospital Infantil de Boston sabia que o problema estava na concentração de oxigênio injetada e começou a estudar, com amostras do próprio sangue, uma forma segura de liberar o gás nas células sanguíneas. A persistência valeu a pena e, depois de ganhar um prêmio de incentivo à pesquisa, ele conseguiu chegar à fórmula exata, descrita na edição de hoje da revista Science Translational Medicine.
No estudo liderado por John Kheir, o objetivo foi desenvolver uma forma segura de liberar o oxigênio nas células, sem a necessidade de equipamentos como entubadores. Os cientistas estocaram o gás de O2 em microcápsulas de gordura, não visíveis a olho nu, e prepararam uma solução líquida para ser injetada na veia. ;Quando você olha, parece um sorvete derretido, mas, na verdade, esse composto é bem fluido e se mistura muito bem ao sangue;, conta o médico. Uma vez na corrente sanguínea, as cápsulas se desfazem e o oxigênio se liga instantaneamente às hemáceas. Em experiências no tubo de ensaio, os cientistas constataram que células já azuis por falta de oxigenação ficaram vermelhas na mesma hora em que o oxigênio era liberado.