Agência France-Presse
postado em 11/07/2012 20:15
Paris- Os indígenas do continente americano descendem de ao menos três ondas migratórias a partir da Sibéria há entre 15 mil e 5 mil anos, afirma um estudo publicado nesta quarta-feira (11/7) na revista Nature.O novo estudo provoca polêmica entre os especialistas em genética, arqueólogos e linguistas, já que muitos afirmam que a população nativa americana procede de apenas um grupo asiático. O trabalho publicado, baseado em uma análise genética mais ampla dos nativos do continente americano, afirma que encontrou provas irrefutáveis sobre três ondas migratórias, confirmando a teoria surgida pela primeira vez em 1986.
O estudo afirma que a maioria dos nativos americanos descende de um grupo conhecido como "O Primeiro Americano", que veio da Ásia cruzando a Beríngia ou Ponte Terrestre de Bering, entre Sibéria e Alasca, há cerca de 15 mil anos. Entre seus descendentes atuais figuram os Algonquinos de Quebec, os Yaganes da Terra do Fogo e os Kaqchikel da Guatemala.
Mas duas migrações posteriores, de pessoas aparentadas com a etnia chinesa Han, deram origem a mais grupos, segundo o trabalho publicado na revista Nature.
"Quase a metade dos nativos de línguas esquimo-aleutianas do Ártico procede de uma segunda onda de genes asiáticos", afirma o estudo, que expõe a mistura que houve entre os emigrantes da segunda e da terceira onda migratória com os da primeira.
A segunda e a terceira onda podem ter chegado à América por mar, após o desaparecimento da Beríngia no final da última era glacial, disse à AFP o especialista em genética Andrés Ruiz Linares, do University College de Londres.
Linares coordenou uma equipe de 60 pesquisadores de todo o mundo, que analisaram dados genéticos de mais de 500 indivíduos pertencentes a 52 grupos nativos americanos e 17 grupos siberianos, buscando semelhanças e diferenças.
Os pesquisadores encontraram a maior diversidade genética na América do Norte, e os grupos mais heterogêneos no Sul, para onde provavelmente avançaram diante do aumento da competição por recursos a medida em que chegava mais gente procedente da Ásia.
"Um dos principais resultados é que os nativos da parte setentrional do continente têm um passado siberiano mais recente que as demais populações do continente", já que se misturaram com os que chegaram mais tarde", disse Ruiz Linares. "Os nativos das partes mais meridionais da América do Norte e até a Terra do Fogo procedem dos primeiros habitantes do continente".
O estudo levou em conta o impacto da mistura com populações europeias e africanas ocorrida após a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492.