Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Treinamento é capaz de ensinar o cérebro a ampliar o foco da atenção

Todo mundo já passou pela estranha experiência de, em um piscar de olhos, perceber a presença de alguma coisa, ou mesmo de uma pessoa, que parece surgir do nada. Essa é uma condição comum, que pode render sustos ou situações mais graves, como um acidente de trânsito ; ainda que não esteja distraído, o motorista, às vezes, não registra a imagem de um obstáculo. Chamado de atenção intermitente ou AB (sigla em inglês), o fenômeno está relacionado ao fato de que, quando dois ou mais objetos aparecem em uma sequência muito rápida ; frações de segundo ;, a visão se concentra na primeira imagem. As seguintes só serão identificadas depois de um tempo de atraso.

Até agora, acreditava-se que essa característica natural da percepção humana não tinha conserto. Um grupo de pesquisadores liderados pela Universidade de Brown, nos Estados Unidos, porém, descobriu que, com treino, é possível melhorar a atenção e visualizar objetos normalmente despercebidos. De acordo com Takeo Watanabe, professor do Departamento de Ciências Psicológicas, Linguísticas e Cognitivas da instituição, o achado é importante não só para que qualquer um seja capaz de enxergar melhor o mundo à sua volta. ;Ao constatarmos que um treinamento pode melhorar essa função, abrimos caminhos para novas abordagens terapêuticas de distúrbios, como deficit de atenção e doenças neurodegenerativas, ou para a recuperação de pessoas que sofreram algum dano cerebral;, enumera.



A atenção intermitente foi descrita em 1987 e, desde então, pesquisadores tentam entender o fenômeno e encontrar uma forma de, ao menos, minimizar o atraso na percepção entre um objeto e outro. Embora frações de segundos pareçam pouco tempo, é dentro de pequenos intervalos como esses que o cérebro processa as informações obtidas pelos órgãos sensoriais. Para se ter uma ideia, um estudo da Universidade de Harvard publicado há três anos na revista Science mostrou que, durante um diálogo, bastam 200 milésimos de segundo para o órgão escolher a palavra adequada e a forma gramatical em que deve ser inserida.