Marcela Ulhoa
postado em 04/09/2012 08:00
Rio de Janeiro, 1933. O tempo é distante, mas Aloysio Silva ainda carrega na memória o dia em que brincava no pátio do Educandário Romão de Mattos Duarte, que fazia fundos ao Palácio da Guanabara, centro do poder da então capital do Brasil. A manhã seria igual a todas as outras, não fosse a chegada de um grande fazendeiro ao local. Hoje com 89 anos, Aloysio era um menino órfão de 10 anos quando foi escolhido por Oswaldo Rocha Miranda para compor o grupo de 50 crianças que seriam transferidas para sua fazenda, a Cruzeiro do Sul, em Campina do Monte Alegre (SP). No interior dos muros com tijolos que estampavam a suástica nazista, ele e os outros meninos foram submetidos por uma década a trabalhos forçados, castigos físicos e humilhações.;Essa família Rocha Miranda entrou e ficou lá no passadiço. Nós estávamos brincando, jogando bola. Aí ele (Oswaldo) chegou e mandou o tutor, que era o motorista dele, encostar a gente num canto e nos separou;, relata Aloysio. Para identificar os mais ágeis, o fazendeiro levou um saco repleto de balas e, de cima do pátio, jogava os doces para os meninos pegarem. ;A gente corria para catar. Na segunda vez, a gente já desconfiou. A gente catava as balas e ele, com a varinha, apontava: ;Joga esse para lá, bota aquele para cá;;. Os selecionados ficaram então isolados das outras crianças por oito dias, quando um carro os buscou no orfanato e os levou até a estação de trem D. Pedro I. Durante todo o trajeto até a estação, dois carros de polícia os acompanharam para evitar fugas.