Carolina Cotta
postado em 21/10/2012 14:02
Esperança para solucionar inúmeras doenças, os medicamentos biológicos são hoje a maior fonte de inovação na pesquisa farmacêutica internacional. Da conhecida insulina humana aos anticorpos monoclonais que estão revolucionando o tratamento do câncer e doenças autoimunes, eles oferecem oportunidade de tratamento e até cura para doenças como diabetes, hepatite, artrite reumatoide e câncer, e outras patologias agudas como infarto do miocárdio, derrames e tromboembolismos. Mas em que diferem dos medicamentos mais tradicionais, os sintéticos? O que precisamos saber sobre os biológicos?
A complexidade desses medicamentos envolve, ainda hoje, um certo desconhecimento sobre os aspectos científicos, regulatórios e econômicos para sua fabricação, comercialização e aplicação, geralmente por via injetável ou inalação, nunca oral. Não só a população mas também a classe médica precisa conhecer melhor essa tecnologia que pode mudar, em breve, o curso de doenças de alta complexidade. Reunindo o que há de mais novo nesse segmento, Belo Horizonte sediará, nesta terça-feira, o seminário Medicamentos Biológicos na Prática Médica ; Soluções e Desafios. Em 4 de dezembro, o seminário será promovido também em Brasília.
A iniciativa é da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) e da Associação Médica Brasileira (AMB). O objetivo é reunir pesquisadores e especialistas para um debate sobre a moderna biotecnologia e seu uso na prática médica. Produzidos por biossíntese em células vivas, diferentemente dos medicamentos sintéticos, feitos por síntese química, a maioria dos biológicos é preparado em cultura de células geneticamente modificadas. Hoje já existem classes diversas desses medicamentos, como hormônios, fatores de crescimento e de coagulação, trombolíticos, proteínas de fusão, anticorpos monoclonais, heparinas e citocinas.
A terapia biológica, ou ;alvo-molecular;, em oncologia é um dos destaques. Segundo André Murad, coordenador do serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Hospital Lifecenter e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenenatron), as chamadas ;drogas biológicas, alvo-moleculares ou inteligentes; fazem parte de uma nova geração de agentes contra o câncer, cujo mecanismo de ação difere totalmente dos quimioterápicos, por exemplo. ;Seu efeito destrutivo se faz exclusivamente nas células malignas, o que poupa e preserva as células normais do organismo, diferentemente da quimioterapia convencional.;
Isso dá a esses medicamentos um excelente perfil de tolerância e muito baixo índice de efeitos adversos, como queda de resistência e consequente predisposição a infecções, queda de cabelos, náuseas, vômitos e anemia, tão comuns na quimioterapia. O motivo é o fato de os medicamentos biológicos serem desenvolvidos para inibir ou reverter alterações das células tumorais provocadas pelas mutações genéticas produzidas pelo processo de transformação maligno.
Para Murad, os biológicos podem ser, no futuro, uma esperança de cura. ;Em alguns anos, esperamos combinar anticorpos monoclonais assim como hoje se combinam as drogas quimioterápicas. A expectativa é de que, com o passar do tempo, todos os genes sejam bloqueados para a cura da doença.; Nos próximos dias a oncologia brasileira comemora a chegada do trastuzumabe ao Sistema Único de Saúde (SUS). No caso do câncer de mama, o trastuzumabe tem sido combinado à quimioterapia tradicional, reduzindo em até 30% a mortalidade por esse tipo de câncer, tanto na fase metastática quanto na inicial.
PERSPECTIVAS
Outras áreas também se beneficiam da tecnologia. Os biológicos são, por exemplo, a mais nova perspectiva de tratamento para doenças como a psoríase. Segundo Valdair Pinto, consultor em medicina farmacêutica, atualmente o maior grupo de doenças investigadas ainda são as oncológicas e as autoimunes. "Hoje, os biológicos têm 20% do mercado total, mas é uma fatia que vem crescendo. Essa proporção vai aumentar com o melhor conhecimento dessas doenças."
BIOSSIMILARES
Não existem genéricos para os medicamentos biológicos. Existem biossimilares. Por serem produzidos a partir de sistemas vivos, com insumos variáveis, o produto final depende da consistência do processo de produção. Por isso, não podem ser replicados de forma idêntica. Os biossimilares são, como sugere o nome, similares ao medicamento referência. A eles é transferida parte da experiência e do conhecimento adquirido pelo produto de referência. Para entrar no mercado, entretanto, os biossimilares precisam passar por estudos que comprovem essa similaridade.
COMO SÃO PRODUZIDOS?
Os genes são segmentos de moléculas de DNA que codificam a síntese de proteínas dentro das células. Desde que decifraram esse código, os cientistas são capazes de cortar genes e recombinar pedaços de diferentes fontes, transferindo, assim, o novo gene para uma célula hospedeira, que passa a fabricar uma proteína de interesse. Dessa forma, uma bactéria pode se transformar em uma fábrica de uma substância para a qual foi reprogramada. A mesma tecnologia permite construções moleculares inovadoras, combinando segmentos de diferentes proteínas, como anticorpos e receptores. São as chamadas proteínas de fusão.
As células hospedeiras que recebem o gene recombinado são chamadas de sistemas de expressão. A bactéria E. coli é um sistema de expressão muito utilizado industrialmente para proteínas mais simples. Proteínas mais complexas necessitam ser produzidas em cultura de leveduras ou células de mamífero. Estas, depois de geneticamente modificadas, são armazenadas em baixas temperaturas e constituem um banco celular que deve ser imortalizado. Essas células geneticamente modificadas são geralmente patenteadas.
Porções desse banco de células são retiradas para cultivo em reatores industriais de 50 mil ou 100 mil litros, com os nutrientes necessários para o crescimento celular. As condições de temperatura e pressão e outras variáveis, como viscosidade e agitação, são rigidamente controladas durante todo o processo. Após o crescimento celular e produção da proteína, inicia-se a etapa de recuperação do produto por meio de complexos procedimentos de separação e purificação. Finalmente, a substância ativa é formulada para
a apresentação final do produto e é acondicionada de modo a garantir a esterilidade e estabilidade necessárias.
A complexidade desses medicamentos envolve, ainda hoje, um certo desconhecimento sobre os aspectos científicos, regulatórios e econômicos para sua fabricação, comercialização e aplicação, geralmente por via injetável ou inalação, nunca oral. Não só a população mas também a classe médica precisa conhecer melhor essa tecnologia que pode mudar, em breve, o curso de doenças de alta complexidade. Reunindo o que há de mais novo nesse segmento, Belo Horizonte sediará, nesta terça-feira, o seminário Medicamentos Biológicos na Prática Médica ; Soluções e Desafios. Em 4 de dezembro, o seminário será promovido também em Brasília.
A iniciativa é da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) e da Associação Médica Brasileira (AMB). O objetivo é reunir pesquisadores e especialistas para um debate sobre a moderna biotecnologia e seu uso na prática médica. Produzidos por biossíntese em células vivas, diferentemente dos medicamentos sintéticos, feitos por síntese química, a maioria dos biológicos é preparado em cultura de células geneticamente modificadas. Hoje já existem classes diversas desses medicamentos, como hormônios, fatores de crescimento e de coagulação, trombolíticos, proteínas de fusão, anticorpos monoclonais, heparinas e citocinas.
A terapia biológica, ou ;alvo-molecular;, em oncologia é um dos destaques. Segundo André Murad, coordenador do serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Hospital Lifecenter e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenenatron), as chamadas ;drogas biológicas, alvo-moleculares ou inteligentes; fazem parte de uma nova geração de agentes contra o câncer, cujo mecanismo de ação difere totalmente dos quimioterápicos, por exemplo. ;Seu efeito destrutivo se faz exclusivamente nas células malignas, o que poupa e preserva as células normais do organismo, diferentemente da quimioterapia convencional.;
Isso dá a esses medicamentos um excelente perfil de tolerância e muito baixo índice de efeitos adversos, como queda de resistência e consequente predisposição a infecções, queda de cabelos, náuseas, vômitos e anemia, tão comuns na quimioterapia. O motivo é o fato de os medicamentos biológicos serem desenvolvidos para inibir ou reverter alterações das células tumorais provocadas pelas mutações genéticas produzidas pelo processo de transformação maligno.
Para Murad, os biológicos podem ser, no futuro, uma esperança de cura. ;Em alguns anos, esperamos combinar anticorpos monoclonais assim como hoje se combinam as drogas quimioterápicas. A expectativa é de que, com o passar do tempo, todos os genes sejam bloqueados para a cura da doença.; Nos próximos dias a oncologia brasileira comemora a chegada do trastuzumabe ao Sistema Único de Saúde (SUS). No caso do câncer de mama, o trastuzumabe tem sido combinado à quimioterapia tradicional, reduzindo em até 30% a mortalidade por esse tipo de câncer, tanto na fase metastática quanto na inicial.
PERSPECTIVAS
Outras áreas também se beneficiam da tecnologia. Os biológicos são, por exemplo, a mais nova perspectiva de tratamento para doenças como a psoríase. Segundo Valdair Pinto, consultor em medicina farmacêutica, atualmente o maior grupo de doenças investigadas ainda são as oncológicas e as autoimunes. "Hoje, os biológicos têm 20% do mercado total, mas é uma fatia que vem crescendo. Essa proporção vai aumentar com o melhor conhecimento dessas doenças."
BIOSSIMILARES
Não existem genéricos para os medicamentos biológicos. Existem biossimilares. Por serem produzidos a partir de sistemas vivos, com insumos variáveis, o produto final depende da consistência do processo de produção. Por isso, não podem ser replicados de forma idêntica. Os biossimilares são, como sugere o nome, similares ao medicamento referência. A eles é transferida parte da experiência e do conhecimento adquirido pelo produto de referência. Para entrar no mercado, entretanto, os biossimilares precisam passar por estudos que comprovem essa similaridade.
COMO SÃO PRODUZIDOS?
Os genes são segmentos de moléculas de DNA que codificam a síntese de proteínas dentro das células. Desde que decifraram esse código, os cientistas são capazes de cortar genes e recombinar pedaços de diferentes fontes, transferindo, assim, o novo gene para uma célula hospedeira, que passa a fabricar uma proteína de interesse. Dessa forma, uma bactéria pode se transformar em uma fábrica de uma substância para a qual foi reprogramada. A mesma tecnologia permite construções moleculares inovadoras, combinando segmentos de diferentes proteínas, como anticorpos e receptores. São as chamadas proteínas de fusão.
As células hospedeiras que recebem o gene recombinado são chamadas de sistemas de expressão. A bactéria E. coli é um sistema de expressão muito utilizado industrialmente para proteínas mais simples. Proteínas mais complexas necessitam ser produzidas em cultura de leveduras ou células de mamífero. Estas, depois de geneticamente modificadas, são armazenadas em baixas temperaturas e constituem um banco celular que deve ser imortalizado. Essas células geneticamente modificadas são geralmente patenteadas.
Porções desse banco de células são retiradas para cultivo em reatores industriais de 50 mil ou 100 mil litros, com os nutrientes necessários para o crescimento celular. As condições de temperatura e pressão e outras variáveis, como viscosidade e agitação, são rigidamente controladas durante todo o processo. Após o crescimento celular e produção da proteína, inicia-se a etapa de recuperação do produto por meio de complexos procedimentos de separação e purificação. Finalmente, a substância ativa é formulada para
a apresentação final do produto e é acondicionada de modo a garantir a esterilidade e estabilidade necessárias.