Ciência e Saúde

Resultados do IMC podem indicar obesidade para pacientes em forma

postado em 22/10/2012 16:27

Mesmo tendo 11% de gordura no corpo, o educador físico Alexandre Silva está acima do peso, segundo o cálculo mais difundido
O educador físico Alexandre Silva, de 25 anos, malha pelo menos uma hora por dia nos últimos 12 anos. Com um corpo atlético, pesa 85kg e mede 1,71m. Apesar de apenas 11% de sua massa corporal ser composta por gordura, o jovem seria considerado acima do peso, beirando o primeiro grau de obesidade, de acordo com o seu Índice de Massa Corporal (IMC) ; cálculo usado para aferir a proporcionalidade entre peso e altura. Apesar de ser uma popular ferramenta para controlar o aumento de peso, o IMC apresenta distorções, como é o caso do educador físico, e, para corrigir essas falhas, uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) propõe reformular a forma no cálculo passando a incluir a quantidade de gordura do paciente.

Atualmente, para se calcular o IMC é preciso dividir o peso pelo quadrado da altura. Mesmo simples, o cálculo abre brecha para os chamados falsos gordos, pessoas que, como Alexandre, embora estejam em forma, apresentam um IMC alto dado à grande quantidade de massa corporal; além dos falsos magros, que, no caminho inverso, apesar de pesar pouco, mantêm um alto percentual de gordura. ;É importante ressaltar que o IMC é um índice universalmente aceito, porém ele foi desenvolvido no início do século 19, quando havia outro panorama epidemiológico mundial;, explica a autora do estudo, a nutricionista Mirele Savegnago Grecco, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Assim, a ideia da pesquisadora foi elaborar um cálculo universal que se ajustasse mais à realidade atual, em que há cada vez mais pessoas obesas, ;possibilitando uma detecção mais precoce da obesidade e, consequentemente, uma intervenção clínica mais rápida, que vai evitar ou minimizar o risco de desenvolvimento de doenças associadas à obesidade, como a hipertensão e o diabetes;, aponta a pesquisadora paulista. Por isso, na nova formulação foi incluído o percentual de massa gorda, que é a quantidade de gordura que o indivíduo tem no organismo. ;Além disso, (com o novo índice) pode-se gerar uma redução importante nos custos para os serviços de saúde;, completa Grecco.

O modelo proposto tem, obviamente, diferente contagem: o peso multiplicado por três é somado a quatro vezes a massa gorda e o resultado dessa adição é dividido pela altura do indivíduo. No caso de Alexandre, o Índice Ajustado à Massa Gorda ; como foi batizada a criação de Mirele Grecco ; ficaria em 1,74, considerado normal pela tabela. ;O IMC tradicional é suficiente para classificar apenas os indivíduos que se encontram nos extremos;, justifica a cientista. ;Esse é o caso dos subnutridos, que têm baixos percentuais de gordura corporal, e dos obesos, que têm elevadas porcentagens de massa gorda;, explica a nutricionista. Ela testou o cálculo em 500 pacientes para criar uma fórmula simples que se ajustasse também às pessoas com outros biótipos, como alta massa e pouca gordura e baixa massa e muita gordura.

Precisão

O avaliador físico Flávio Bonora concorda com a eficácia do Índice Ajustado à Massa Gorda. ;Realmente, ele corrige as distorções do IMC e ajuda o avaliador a fazer uma análise mais precisa da situação física dos pacientes;, opina. Acostumado a lidar com pessoas que estão iniciando atividade física ou buscando mais condicionamento, ele conta que é bastante comum clientes que usam o IMC se frustrar na hora de fazer uma análise mais detalhada.

;É muito comum com mulheres estar dentro do peso ideal e, portanto, com um bom IMC, mas, na hora em que é medido o percentual de gordura do corpo, elas descobrem que têm um perfil de sobrepeso ou mesmo de obesidade;, explica. Problemas como esse ocorrem em casos, inclusive, de pessoas que apresentam fisionomia de peso normal. ;Como o percentual de gordura está alto, mesmo não aparentando estar gorda a pessoa corre os mesmos riscos relacionados à obesidade, como hipertensão e diabetes;, explica o avaliador físico Flávio Bonora.

[SAIBAMAIS] ;Para essas pessoas, o novo índice servirá como um referencial claro de que é preciso perder peso e melhorar o condicionamento físico. O mesmo vale para atletas que têm grande massa corporal e pouca gordura, mas, nesse caso, em geral a própria pessoa já conta com a orientação de um profissional;, completa. Segundo Bonora, contudo, a ampla implementação do Índice Ajustado à Massa Gorda esbarra em um problema. ;O IMC só leva em consideração peso e altura. Se por um lado em alguns casos isso pode levar à distorção dos resultados, por outro é uma medida fácil de calcular, já que em geral todo mundo sabe o próprio peso e altura;, afirma.

Para calcular o novo índice, seria necessária a ajuda de um adipômetro, um pequeno aparelho semelhante a um alicate. Com ele, o educador físico mede a espessura da camada de pele e de gordura sob o músculo em sete partes do corpo. O resultado é comparado a uma tabela de referência que dá o percentual de gordura do paciente. ;Não é uma medida tão simples de se obter. Talvez em um contexto médico seja possível de se obtê-la e aplicá-la, mas em casa, de maneira simples como é com o IMC, não é possível;, completa.

Mais estudos testam o índice
Duas pesquisas publicadas em setembro no European Heart Journal também colocaram em xeque a eficiência do Índice de Massa Corporal (IMC). Durante três anos, cientistas analisaram a mortalidade de 64 mil suecos com problemas cardíacos. Os voluntários foram divididos em grupos de acordo com o IMC. Após a análise, o gráfico da mortalidade ficou em forma de U, indicando que as pessoas enquadradas nos extremos ; as muito magras e muito gordas ; tinham o mais alto risco de morrer do que as na condição intermediária, como sobrepeso e obesidade mórbida. Realizada na Universidade de Granada, em Espanha, a segunda pesquisa analisou a saúde de 43 mil americanos, divididos de acordo com o nível de obesidade. Após 14 anos de avaliações, os cientistas chegaram à conclusão de que obesos saudáveis tiveram um risco 38% menor do que os não saudáveis de morrer por qualquer causa. A redução de morte por problema cardíaco ou câncer foi de 30% a 50%.

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