Marcela Ulhoa
postado em 08/01/2013 09:18
Algumas crianças, ainda nos primeiros meses de vida, sofrem com episódios frequentes de infecção. São gripes, otites, irritações no intestino que podem culminar em um problema raro ainda pouco considerado nos diagnósticos médicos: a doença celíaca. Caracterizada pela intolerância permanente ao glúten, ela atinge cerca de 1% da população mundial e seus sintomas clássicos ; como diarreia, desnutrição, vômitos, falta de apetite e mesmo prisão de ventre ; são facilmente confundidos com outros distúrbios. Impressionados com o surto da doença do glúten na Suécia, pesquisadores da Universidade de Ume; realizaram um estudo com 954 crianças e constataram que mais de três infecções, independentemente do tipo, durante os seis primeiros meses de vida de um bebê, podem dobrar o risco de desenvolvimento da doença celíaca.;A ligação entre infecções precoces e a enfermidade já havia sido sugerida, mas as pesquisas anteriores trazem resultados inconclusivos. Um importante fator que conseguimos mostrar é que existe um efeito sinérgico a partir da quantidade de glúten ingerida;, explica Anna Myléus, autora principal do estudo. Segundo ela, quanto mais glúten uma criança com muitas infecções consumir, mais potente será o efeito maléfico sobre a saúde dela. A combinação dos dois, nesse caso, é muito mais explosiva do que a soma individual de cada um dos fatores de risco. Além disso, a situação piora ainda mais se a mãe tiver interrompido cedo o aleitamento e, logo depois, acrescentado o glúten à dieta do bebê. Na categoria dos alimentos que devem ser eliminados pelos celíacos entram quase todos os itens industrializados, já que o glúten é nada menos do que a principal proteína presente no trigo, na aveia, no centeio, na cevada e no malte.
Segundo os pesquisadores, um importante aspecto a ser ressaltado do estudo é a importância do aleitamento materno na redução do risco para a doença do glúten, especialmente entre as crianças que sofrem com infecções frequentes. ;O leite materno protege a criança predisposta, e a introdução do glúten deve ser feita em pequenas quantidades ainda durante a amamentação contínua;, reforça Myléus. De acordo com a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Lenora Gandolfi, é essencial a conscientização para que as mães voltem a amamentar os filhos de forma exclusiva. ;A mulher está perdendo isso, ela já cresce em uma sociedade em que tem que competir, que trabalhar e, desde a Revolução Industrial, é comum que ela deixe seus filhos com a ama de leite. A amamentação tem que ser um ato espontâneo;, pondera.