Agência France-Presse
postado em 17/01/2013 17:46
Argel - O exército argelino lançou nesta quinta-feira uma operação militar de resgate das centenas de pessoas mantidas reféns em um campo de exploração de gás por um grupo extremista ligado à Al-Qaeda, que lançou mão deste recurso para exigir o fim da intervenção francesa no Mali.Uma fonte islamita anunciou a morte de pelo menos 34 reféns estrangeiros e 15 sequestradores, após um ataque do exército argelino, que conseguiu libertar 600 argelinos, retidos por um comando islamita no campo de gás localizado no sudeste da Argélia, segundo a agência argelina APS.
O ministro argelino das Comunicações, Mohamed Said, confirmou que alguns reféns em mãos dos islamitas armados morreram ou ficaram feridos durante o ataque, mas não mencionou cifras.
Mohamed Said disse, além disso, que houve "um número importante de reféns libertados e, infelizmente, mortos e feridos", e que não é possível dar cifras definitivas.
"A operação continua", afirmou Said em uma declaração ao vivo a um canal de língua francesa, na primeira reação oficial desde o início da operação.
"Trinta e quatro reféns e 15 sequestradores morreram em um bombardeio (aéreo) do exército argelino", declarou um porta-voz do grupo islamita à agência mauritana Nouakchott Information (ANI). O chefe do grupo islâmico atacante, Abu Al Baraa, está entre os mortos, segundo a fonte.
Outros sete reféns ocidentais - três belgas, dois americanos, um japonês e um britânico - continuam vivos e sobreviveram ao ataque do exército argelino, acrescentou.
Quatro reféns estrangeiros foram libertados nesta intervenção contra os islamitas que pedem o fim da intervenção francesa no Mali. Segundo a APS, tratam-se de dois britânicos, um francês e um queniano. A fonte também anunciou a libertação de 600 reféns argelinos.
Para Dublin, um refém com passaporte irlandês originário da Irlanda do Norte recuperou a liberdade e se encontra "são e salvo".
No campo de exploração de gás do Saara argelino, 1.300 km a sudeste de Argel, helicópteros do exército deste país abriram fogo, segundo a ANI.
Os islamitas entrincheirados no campo de gás também informaram que o exército argelino tinha lançado um ataque terrestre. "Aviões de combate e unidades terrestres iniciaram uma tentativa de tomar à força o complexo", informou um porta-voz dos sequestradores à ANI, que ameaçou "matar todos os reféns" se as forças argelinas entrassem no campo de gás.
O porta-voz islamita afirmou que o comando estava tentando "levar os reféns a um local mais seguro a bordo de veículos" quando o exército argelino o bombardeou.
Mais de 24 horas após o início do sequestros, o número exato bem como a nacionalidade dos reféns são imprecisos. Mas haveria a princípio mais de 40 ocidentais, entre eles sete americanos, dois britânicos, assim como japoneses, um irlandês, um norueguês e pelo menos 150 argelinos.
Antes do ataque do exército argelino, 15 reféns estrangeiros conseguiram fugir, noticiou a emissora privada argelina Ennahar.
Pouco antes, 30 argelinos sequestrados também tinham conseguido escapar, segundo a prefeitura da região, próxima à fronteira com a Líbia.
A Argélia excluiu qualquer negociação com os sequestradores, que disseram proceder do vizinho Mali e reagir à "cruzada das forças francesas no Mali".
Represália pelo Mali
Os sequestradores se apresentaram como os "Signatários pelo Sangue", nome da katina (unidade combatente) do argelino Mokhtar Belmokhtar, apelidado de "o caolho" ou "Senhor Marlboro" por seus supostos tráficos de cigarros.
Embora os atacantes tenham assegurado vir do Mali, situado a mais de 1.200 km de distância, o ministro argelino do Interior desmentiu e afirmou que eram da região e desejavam "sair do país com os reféns, o que não é aceitável para as autoridades argelinas".
Segundo um funcionário local que pediu para ter sua identidade preservada e teve acesso às conversas com os sequestradores, eles "pedem a libertação de 100 terroristas detidos na Argélia" em troca dos reféns.
De acordo com especialistas, em vista de sua complexidade, semelhante operação foi preparada há tempos, antes da intervenção francesa no Mali, apesar de ser apresentada como represália à guerra que Paris trava no país africano.
A França anunciou esta quinta-feira a decisão de reforçar sua mobilização no Mali, com o envio de 1.400 militantes suplementares e de helicópteros de combate. Um novo confronto ocorreu à noite entre soldados franceses e malinenses contra combatentes islamitas perto de Konna (centro).
A tomada desta cidade em 10 de janeiro pelos islamitas que ocupavam o norte provocou os bombardeios aéreos franceses e em seguida posteriores operações terrestres.
Entretanto, em Bamaco, a chegada de um primeiro contingente nigeriano da força de intervenção da África ocidental ocorrerá esta quinta-feira.
Perto de 2.000 soldados da Misma (Força Internacional de apoio do Mali) serão mobilizados antes de 26 de janeiro em Bamako, segundo decidiram na quarta-feira os chefes de Estado maior da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CDEAO).
Reações variadas
O presidente francês François Hollande apoiou a ação em andamento, embora a tenha classificado de operação dramática.
"O que acontece na Argélia justifica ainda mais a decisão que tomei em nome da França de ajudar o Mali em conformidade com a Carta das Nações Unidas e a pedido do presidente desse país", assinalou Hollande. "Trata-se de por fim a uma agressão terrorista e permitir que os africanos se mobilizem para preservar a integridade territorial de Mali".
O ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, considerou que os países europeus poderão colocar à disposição soldados para a intervenção contra os islamitas armados no Mali.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também afirmou que vários países europeus não excluem um apoio militar à França, sem mencionar envio tropas ou soldados.
Já o primeiro-ministro britânico, David Cameron, lamentou não ter sido informado da operação militar do exército argelino.
"O governo argelino está a par que teríamos preferido ser consultados com antecedência", enfatizou um porta-voz do governo.
O Japão, por sua vez, exigiu que Argélia cesse imediatamente a operação militar. Um porta-voz do governo informou que o primeiro-ministro Shinzo Abe, que se encontra em Bangcoc, ligou para seu colega argelino para expressar sua "profunda preocupação" a propósito da operação militar em curso.
Por fim, a Casa Branca expressou sua preocupação em relação à operação na Argélia.
"Obviamente estamos preocupados com a informação sobre a perda de vidas humanas", afirmou o porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney. "Tentaremos pedir esclarecimentos ao governo argelino", acrescentou.