postado em 29/01/2013 09:48
Lisboa - A grande circulação de pessoas entre os países e a ocorrência de picos de calor e de umidade estão favorecendo a ocorrência de casos de dengue na Europa. A infestação dos mosquitos transmissores da doença é tanta que os órgãos de saúde pública e as instituições de pesquisa sanitária consideram a possibilidade de surto em alguns lugares ; como no Sul do continente.Entre outubro e dezembro do ano passado, o Arquipélago da Madeira (no Oceano Atlântico a cerca de 1.000 quilômetros de Lisboa) registrou mais de 2,1 mil casos de dengue. A chegada do vírus à parte continental de Portugal é dada como certa por especialistas, provavelmente, no próximo verão.
;O surto de dengue na Madeira é um surto que irá se repetir no futuro, a partir do momento em que temos condições para que haja transmissão autóctone da dengue, temos o vetor e o vírus;, salienta Jorge Atouguia, médico especialista e investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Portugal. ;Essa transmissão vai ocorrer periodicamente; assim como se passa no Brasil e em outros países da América Latina e da Ásia.;
Segundo ele, o surto de dengue na Madeira ocorreu porque há a grande presença na ilha (especialmente em Funchal) do Aedes aegypti, transmissor do vírus, e porque alguma pessoa com a doença ; que desembarcou no arquipélago vinda de uma área tropical e tenha sido picada pelo mosquito ; deu início ao ciclo de contaminação.
;Para evitar a doença depois da chegada do mosquito [que vem sendo verificada desde 2005] o importante era que não houvesse ninguém infectado, mas esse alguém chegou em outubro de 2012;, calcula Jorge Atouguia.
[SAIBAMAIS]De acordo com o pesquisador, o vírus veio da Venezuela. Segundo ele, há cerca de 300 mil pessoas com origem ou parentes na Ilha da Madeira, morando na Venezuela. Há voos diretos entre os dois lugares, o que pode propiciar que algumas pessoas com o vírus viagem e desembarquem antes de começar a sentir os sintomas da doença (febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares, dores nas juntas, prostração e vermelhidão no corpo).
Além da Madeira, Autoguia prevê que o Aedes aegypti possa circular em Portugal na época de mais calor e se alojar em definitivo na Região Sul de Portugal (no Algarve), onde as temperaturas são mais elevadas. O mosquito circula geralmente onde há temperaturas acima dos 15 graus Celsius (;C).
O pesquisador alerta que na Europa há outro vetor que contribui para a propagação da doença ; um ;primo asiático do Aedes aegypti;: o mosquito Aedes albopictus já presente no Sul da França, na Itália, e na Espanha. O Aedes albopictus vem sendo verificado na Europa desde a década de 1980 (na Albânia) e, apesar de não passar o vírus para os ovos (como faz o Aedes aegypti), ele transmite a doença ao picar uma pessoa infectada e depois outra sem o vírus.
No caso do Aedes aegypti, as fêmeas se alimentam do sangue humano no período de reprodução e passam o vírus para os ovos, de onde surgirão novos mosquitos contaminados.
Por enquanto, não foi verificado nenhum caso de dengue hemorrágica (que pode levar à morte), porque somente um tipo do vírus da dengue foi encontrado na Europa. A possibilidade do agravamento da doença ocorre quando uma pessoa já contaminada é infectada posteriormente por outro tipo de vírus. No Brasil, circulam quatro tipos do vírus da dengue e por isso há casos de dengue hemorrágica. ;Espero que isso [a dengue hemorrágica] nunca aconteça. Se ocorrer, terá efeitos danosos inclusive para a economia;, alerta Jorge Autoguia ao lembrar que a Ilha da Madeira tem o turismo como uma das principais atividades.
O especialista lembra que ;onde há pessoas há o mosquito; e, por isso, como ocorre no Brasil, é preciso fazer campanhas de esclarecimento para que a população tome os cuidados para evitar o vetor da doença. A possibilidade de ocorrência de dengue na Europa e nos Estados Unidos é prevista pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há pelo menos cinco anos. No Brasil, há diferentes pesquisas em andamento para a criação de vacina contra a dengue, esterilização do Aedes aegypti, além de iniciativas locais para controle da transmissão.