Agência France-Presse
postado em 31/01/2013 13:31
Paris - É a segurança alimentar da humanidade que está em jogo: mais de 700.000 amostras de culturas têm sido armazenadas em bancos genéticos de todo o mundo para permitir enfrentar todos os desafios relacionados à natureza ou aos conflitos.Desde 2004, a Global Crop Diversity Trust, uma organização internacional independente fundada sob a égide das Nações Unidas, deposita nas coleções de milho, arroz, banana, feijão, batata e outras, a esperança para superar os cataclismos. Seus pesquisadores trabalham em 11 bancos de germoplasma do Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR), distribuídos principalmente em países em desenvolvimento, com os quais o Trust assinou nesta quinta-feira uma nova parceria de US$ 109 milhões em 5 anos.
[SAIBAMAIS]"Isso é para preservar espécies selvagens, encontradas às vezes em lugares de difícil acesso, como montanhas, ou esquecidas, a fim de encontrar possíveis novos usos", resume Charlotte Lusty, pesquisadora do Trust. "Este é um trabalho contínuo", justifica. Às vezes, áreas que permaneceram de difícil acesso devido à conflitos ou regimes políticos, se abrem como é o caso atual de Mianmar: "Nesses casos, descobrimos novas variedades".
Ao contrário do centro de Svalbard, na Noruega, uma verdadeira Arca de Noé vegetal, que visa preservar para sempre uma amostra de cada planta, semente ou gérmen e que só abre um punhado de dias por ano, os bancos do CGIAR estão permanentemente abertos a biólogos e agrônomos. Nos últimos dez anos, os bancos distribuíram mais de um milhão de amostras para escolas e institutos especializados em pesquisa de novas variedades ou esquecidas.
Feijão andino desconhecido
Após o tsunami de 2004 na Ásia, quando regiões inteiras foram inundadas com água salgada, os pesquisadores do Instituto Internacional do Arroz, em Manila, procuraram em meio a uma coleção de mais de 100 mil genes desenvolver variedades capazes de se desenvolver apesar do sal.
Mais recentemente, um feijão até então desconhecido dos Andes se mostrou particularmente rico em ferro e perfeitamente adaptável para a República Democrática do Congo, onde tem sido cultivado desde 2012. "Nós trabalhamos com quase todos os países, o objetivo é desenvolver um sistema verdadeiramente global", insiste Charlotte Lusty. "A parceria Trust/CGIAR garante a preservação e disponibilização de coleções".
Por enquanto, uma ameaça direta pesa sobre as coleções de trigo armazenadas em Aleppo, na Síria, devido ao conflito. "O pessoal foi evacuado e os envolvidos no conflito se comprometeram a não bombardear as instalações", acredita. Os bancos de genes começaram a se organizar nos anos 1970, com a Revolução Verde no mundo, explica, enquanto algumas variedades desapareciam nos campos. "O CGIAR em seguida, começou um grande esforço para assegurar a sua conservação".
As sementes recolhidas são desidratadas e armazenados entre -15 e -20;C. Para as plantas sem sementes (banana, batata ou mandioca), a tarefa é mais complexa: uma amostra de tecido é removido e armazenado num estado criogênico a temperaturas extremas. Para a bióloga britânica, este trabalho quase monástico é a garantia absoluta para o futuro. "A diversidade cultural é uma das melhores respostas à mudança climática, mas tudo depende da partilha de recursos e de conhecimentos através das fronteiras".