Bruna Sensêve
postado em 21/02/2013 09:37
Marilyn, 68 anos, tem câncer de mama em metástase para os pulmões, o tórax e a coluna lombar. Submetida a sessões de quimioterapia, ela descreve ter pouca energia, apetite mínimo e dor insuportável no tórax e na coluna. Toma medicamentos para controlar o enjoo e os vômitos provocados pela radio ou quimioterapia, sem muito sucesso. Também são administradas doses de 1g de paracetamol a cada oito horas, sendo que, em algumas noites, recorre a 5mg ou 10mg de oxicodona para aliviar a dor. Essa substância é derivada do ópio e tem potência cerca de duas vezes superior à morfina. Em visita ao médico, ela o questiona sobre a possibilidade de usar maconha para aliviar a náusea, a dor e a fadiga. Qual seria a resposta mais adequada? A respeitada revista científica New England Journal of Medicine fez a pergunta à comunidade médica mundial em artigo publicado hoje.Os argumentos são inúmeros ; tanto favoráveis quanto contrários ao uso da maconha. Michael Bostwick, do Departamento de Psiquiatria e Psicologia da Clínica Mayo, em Minnesota, nos Estados Unidos, é categórico ao afirmar que indicaria a erva. ;Concordo com a prescrição bem planejada de maconha medicinal para pacientes em situações semelhantes à de Marilyn;, declara. Segundo ele, uma porção crescente da literatura apoia a eficácia da substância, especialmente quando não há resposta aos tratamentos convencionais.
DEPOIMENTO
Falta discutir a qualidade da morte
"Quando o câncer atingiu a parte óssea do corpo da minha irmã, ela já sentia dores horríveis. Quem acompanhou viu o filme de terror. Era um câncer que não tinha mais retorno. Ela fez todo o tratamento, foi tratada com muita dignidade, mas as dores eram inevitáveis, sofria até fraturas espontâneas. Nessa época, eu já tinha ouvido falar que a maconha poderia trazer um grande alívio para ela. Não me perdoo por não ter tido coragem de ter ido atrás disso. No ano seguinte, passei a acompanhar um grande amigo. Não tive dúvidas: quando ele precisou, fui atrás. Preocupei-me por não ter certeza se era uma droga contaminada, mas vi que surte um grande efeito. Ele me agradecia muito e relatava como melhorava. O ânimo mudou em geral, ele teve um quadro melhor de tranquilidade e de humor naquele final. Por que isso não é controlado para pessoas que estão sofrendo? É a ignorância em nome de um grande preconceito. Vejo que na medicina pode se discutir qualidade de vida, mas ninguém discute qualidade de morte."
Helena Sampaio, 59 anos, nutricionista