Paloma Oliveto
postado em 24/02/2013 08:00
O primeiro passo para o surgimento do homem foi, literalmente, colocar os pés no chão. Ao se tornar bípede, o ancestral do Homo sapiens ampliou seu território, fabricou ferramentas eficientes, conseguiu carregar e armazenar alimentos. Com uma dieta reforçada, seu cérebro cresceu, ele ficou mais inteligente, manejou o fogo, descobriu a roda. Muito tempo depois, começou a plantar e a domesticar animais, até que, enfim, fundou a civilização. Mas nem tudo foi perfeito nesse processo. Ao contrário do que muitos imaginam, o homem não é um ;design inteligente;. De acordo com cientistas, pode-se culpar a evolução por muitos problemas que ainda atormentam os descendentes de Lucy, 3,2 bilhões de anos depois de o australopiteco começar a dar voltinhas pela savana africana.
Pé chato, tornozelo torcido, quadril fraturado, coluna torta, obesidade, dente inflamado, parto dolorido e arriscado. Esses problemas são o preço que o homem paga até hoje pela decisão dos ancestrais de descer do galho e explorar o mundo ao redor. São as ;cicatrizes da evolução;, como definiu, na década de 1950, a revista Scientific American. Durante a reunião anual da Academia Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), o maior evento científico do mundo, terminado na segunda-feira, antropólogos afirmaram que essas heranças indesejáveis são uma prova de que os humanos estão longe de ser uma ;máquina perfeita;.
;A evolução não produz a perfeição. Nós somos criaturas funcionais, e é disso que se trata a evolução;, argumenta Alan Mann, paleoantropólogo da Universidade de Princeton. Aos olhos antropocêntricos, é muito melhor ser um homem que um primata selvagem. Sinal de que a evolução é sinônimo de aprimoramento. Mas não é bem assim, explica Jermey DeSilva, morfologista funcional da Universidade de Boston que estuda os hábitos locomotores ancestrais. ;A evolução trabalha com o material disponível. Ela modifica criaturas preexistentes para que se adaptem ao ambiente. Se esse organismo sobrevive, as novas características genéticas serão passadas para as novas gerações;, esclarece.