Marcela Ulhoa
postado em 24/02/2013 08:00
Todo dia ela faz tudo sempre igual, mas completamente diferente. Há mais de duas décadas, a pediatra Débora Nunes, 51 anos, acorda, põe o jaleco branco e, quando chega ao hospital, passa pela porta que sinaliza o acesso restrito. Ela entra calada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica e neonatal do Hospital Anchieta, em Brasília, e passa em cada leito para ver seus pequenos pacientes. Apesar da rotina, a médica intensivista nunca sabe que tipo de paciente chegará ao local onde a luta pela sobrevivência é levada ao extremo.
O desconhecido, entretanto, não existe só para a equipe de profissionais de saúde envolvida na terapia intensiva. Para mães, pais, avós e colegas, ter passe livre ao local de acesso restrito é quase sempre apavorante. Em um único ambiente, são vários leitos divididos por cortinas que conferem uma certa privacidade ao paciente. A divisão visual, entretanto, não se replica à sonora. Os bipes das máquinas são constantes, os choros, as risadas, são todos ruídos compartilhados. O fluxo de pessoas também é intenso. De tempo em tempo, há a visita das equipes compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, infectologistas e tantas outras especialidades.
;Na primeira entrada na UTI, existe um impacto grande, a pessoa fica um pouco paralisada, não sabe direito para onde olhar. Ela tem medo de olhar o familiar internado daquele jeito, ela ouve o bipe do monitor, vê o respirador, vê que é muita gente circulando;, relata Débora. Para o estresse dos familiares, o remédio que a intensivista dá é carinho e atenção. Um dos seus primeiros desafios é conquistar a confiança dos pais e deixá-los seguros de que a equipe profissional está ali para olhar as máquinas e os bipes. A função dos familiares é olhar para o bebê e acreditar no seu potencial de recuperação.