Belo Horizonte — A angústia, a insônia e a tristeza podem ser incômodos momentâneos para grande parte das pessoas. Para outras, contudo, são estados frequentes que ajudam a formar um quadro de depressão, doença grave que precisa de cuidado, tendo como opção de tratamento medicações que buscam aliviar os sintomas e dar mais qualidade de vida aos pacientes. O que preocupa especialistas da área da saúde, contudo, é o uso indiscriminado desses remédios. O medo desses profissionais é que o diagnóstico errado leve muita gente a ingerir fármacos sem necessidade.
Números indicam que essa pode ser uma realidade preocupante no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), só em 2011, foram vendidas, nas farmácias brasileiras, 18,45 milhões de caixas com 30 comprimidos (553 milhões de pílulas) de drogas que têm como princípio ativo o clonazepam, um ansiolítico. O número representa um aumento de 36% em relação a 2010.
Diferentes níveis de gravidade
A perda da mãe levou o comerciante Rinaldo José Cordeiro, 47 anos, a tomar o clonazepam. Ele mora em Piedade dos Gerais, cidade onde, segundo levantamento do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais, foram consumidos 44 mil comprimidos do remédio em 2011 — média de nove pílulas para cada habitante. “Há 18 anos, perdi a minha mãe e a minha estrutura. Os médicos me receitaram um remédio com clonazepam. Durante três anos, eu tomei duas pílulas todos os dias. Isso passou a não fazer efeito. Fui internado por causa do alcoolismo. E, depois de me livrar do álcool, os médicos receitaram antidepressivos. É mais fácil largar a bebida do que os medicamentos”, acredita.
Segundo o psiquiatra e homeopata Aloísio Andrade, “depressão é um guarda-chuva que abriga vários diagnósticos”. Ele explica que angústia é um questionamento do sentido da vida. “Mas se ela se intensifica, torna-se um quadro depressivo.” Nesse estado, o primeiro nível, de acordo com ele, tem como sintomas a insônia ou o excesso de sono, dor na coluna e outros sinais. “Isso pode evoluir para a depressão neurótica, em que a pessoa tem dificuldade de se levantar da cama e tende a ficar mais parada.”
Um estágio ainda mais severo é o transtorno depressivo patológico, segundo Andrade, no qual há riscos até mesmo de tentativas de suicídio. O médico diz que há ainda a depressão causada pelo uso de álcool e outras drogas. “São substâncias depressoras do sistema nervoso central”, diz. Ele esclarece que depressão psicótica é a mais grave delas.