Ciência e Saúde

Busca de matéria escura invisível no Universo pode chegar ao fim

Os resultados foram alcançados por uma experiência realizada durante 18 meses com o Espectrômetro Magnético Alfa

Agência France-Presse
postado em 03/04/2013 18:26
Washington - A busca pela misteriosa matéria escura invisível, que representaria cerca de um quarto do Universo, pode chegar ao fim nos próximos meses, segundo físicos que citaram nesta quarta-feira (3/4) resultados preliminares obtidos com um instrumento ligado à Estação Espacial Internacional (ISS).

Os cientistas dizem ter observado a existência de um excesso de antimatéria de origem desconhecida, capturado no fluxo dos raios cósmicos que poderia ter resultado da aniquilação de partículas de matéria escura.

Estes resultados, publicados na revista Physical Review Letters, foram alcançados por uma experiência realizada durante 18 meses com o Espectrômetro Magnético Alfa (AMS), um enorme instrumento científico que gira na órbita terrestre a bordo da ISS.

Os "resultados são compatíveis com pósitrons - partículas de antimatéria - e podem provir da destruição de partículas de matéria escura que colidem entre si no espaço", reportou a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern), com sede em Genebra, em um comunicado.

"Mas estes resultados ainda não são suficientemente conclusivos para descartar outras explicações", como um pulsar ou uma estrela de nêutrons, indicou o Cern.

"Nos próximos meses, o AMS pode dizer com certeza se os pósitrons são evidência de matéria escura ou se é outra coisa", disse o físico americano Samuel Ting, prêmio Nobel e professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que chefia a pesquisa.

Grande mistério da física moderna

Equipes de pesquisa europeias e norte-americanas analisaram 25 bilhões de partículas, entre eles 400 mil pósitrons, com energia que varia de 0,5 a 350 giga-elétron-volts (GeV). A presença de matéria escura no Universo até agora só foi detectada indiretamente através de seus efeitos de gravidade. No entanto, a natureza desta matéria continua sendo um dos maiores mistérios da Física moderna, acrescentou o CERN.



A matéria escura não é composta de nêutrons, prótons ou elétrons na forma padrão como a Física descreve a matéria visível, que representa apenas de 4% a 5% do Universo. Este modelo não inclui a gravidade, uma das principais forças do cosmo, daí a necessidade de uma teoria mais ampla e de índices de pesquisa mais promissores que apontem para a matéria escura, segundo os físicos.

Esta matéria seria formada de partículas exóticas de grande massa - seis vezes maior que a das partículas comuns - agrupadas sob o nome de WIMPs (acrônimo do inglês partículas maciças de interação fraca) que têm interações frágeis com a matéria visível. Para Michael Turner, diretor do Instituto de Física Kavi, da Universidade de Chicago, "a misteriosa matéria escura mantém unida nossa galáxia e o resto do universo e temos fortes evidências que mostram que é composta por algo novo".

Além dos 5% da matéria visível e dos 23% da matéria escura que forma o cosmo, os outros 72% são energia escura, uma força que poderia explicar a expansão acelerada do Universo. A ideia da matéria escura nasceu há 80 anos, quando o astrofísico suíço-americano Fritz Zwicky descobriu que não havia massa suficiente nas estrelas ou nas galáxias observadas para que a gravidade pudesse mantê-las juntas.

Ao lado do AMS, outro instrumento de detecção indireta da matéria escura é o Observatório de Neutrinos do Polo Sul, conhecido como IceCube e situado na Antártica. Este observatório faz o acompanhamento das partículas subatômicas (neutrinos) que se criam quando a matéria escura passa pelo sol e interage com os prótons.

Os cientistas confiam ainda no Grande Colisor de Hádrons (LHC), do Cern, na fronteira franco-suíça, o maior acelerador de partículas do mundo, cuja potência deveria permitir superar os elétrons, os quarks ou os neutrinos para fazer emergir a matéria escura.

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