Ciência e Saúde

Especialistas alertam para risco de epidemia de câncer na América Latina

Grande número de mortes entre pacientes seria consequência do diagnóstico tardio

Agência France-Presse
postado em 25/04/2013 19:27
São Paulo - A América Latina poderá enfrentar uma epidemia de câncer a menos que os governos ajam rapidamente para melhorar os sistemas de saúde e tratem os pobres, alertaram cientistas em um relatório que será publicado na edição desta sexta-feira (25/4) da revista The Lancet Oncology.

O relatório, apresentado durante a conferência Grupo de Cooperação em Oncologia Latino-americano (LACOG) 2013 em São Paulo, contabiliza 13 mortes a cada 22 casos de câncer na região, contra 13 mortes para 37 casos nos Estados Unidos e 13 mortes em 30 na Europa.

A razão principal, segundo os autores, é que muitas pessoas são diagnosticadas tardiamente com câncer, quando a doença é muito mais difícil de tratar e mais propensa levar o paciente à morte.

"Os pesquisadores estimam que até 2030 serão diagnosticados 1,7 milhão de casos de câncer na América Latina e no Caribe, e haveria mais de um milhão de mortes atribuídas ao câncer anualmente", destacou o relatório.

A doença representa atualmente perdas no valor de 4 bilhões de dólares ao ano para a região, incluindo não só o custo do tratamento e dos medicamentos, mas também o impacto na economia e na perda prematura de vidas por causa do câncer.


"Estes custos aumentarão substancialmente se os governos não adotarem ações coordenadas para conter o impacto crescente do câncer na região", advertiu o relatório.

"Muita gente na região, principalmente em comunidades pobres, indígenas ou rurais, tem pouco ou nenhum acesso a serviços de combate ao câncer, um problema exacerbado por um investimento baixo em saúde e altamente desigual na maioria dos países latino-americanos", acrescentou.

Outro fator, segundo os autores, é que mais da metade dos latino-americanos carecem de sistemas de saúde ou têm acesso a um serviço inadequado.

"Os países latino-americanos centraram seus investimentos em saúde na prevenção e no tratamento de doenças infecciosas, enquanto o gasto com doenças não contagiosas, como o câncer, não seguiu este ritmo", afirmou o americano Paul Goss, professor da Escola de Medicina de Harvard, que chefiou a equipe de especialistas, predominantemente latino-americanos, que redigiram o informe.

"Os cânceres são doenças de gente que envelhece e os cientistas estimam que em 2020 haverá mais de 100 milhões de pessoas na América Latina com mais de 60 anos", acrescentou.

O informe destacou, ainda, que muitos países da região melhoraram alguns aspectos do tratamento contra o câncer nos últimos anos, mas reivindicou medidas para enfrentar as desigualdades nos sistemas de saúde, pedindo uma reavaliação da infraestrutura sanitária e acesso a medicamentos e equipamento médico, bem como um maior investimento público em saúde.

Os governos podem reduzir os índices de câncer a um custo relativamente baixo, incentivando as pessoas a parar de fumar, a evitar a fumaça da cozinha, reduzir o consumo de álcool, seguir uma dieta saudável e praticar exercícios, destacou.

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