Ciência e Saúde

Terapia genética surge como alternativa às gripes H1N1 e H5N1

Vacina composta por um vírus modificado e injetada no nariz de ratos imunizou os animais contra as versões mais letais do H1N1 e do H5N1. Os pesquisadores acreditam ser possível reproduzir o efeito em humanos

Isabela de Oliveira
postado em 30/05/2013 06:05

Ao longo dos séculos, surtos de doenças infecciosas atacaram a humanidade e deixaram um incontável número de vítimas. Apesar do arsenal tecnológico cada vez mais eficiente, o combate a micro-organismos causadores de doenças letais ainda desafia a ciência. A capacidade de mutação parece colocar os vírus um passo à frente do homem, mas terapias genéticas surgem como uma alternativa promissora para transformar os inimigos em aliados. Uma das estratégias mais recentes nesse sentido é o desenvolvimento de uma vacina intranasal que utiliza vírus programados geneticamente para estimular a produção de anticorpos contra o H1N1 e H5N1, causadores das gripes A e aviária, respectivamente.

O tratamento foi anunciado por pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá na edição de hoje da revista Science Translantional Medicine. Até agora, o método só foi testado em ratos e em furões com os tipos mais violentos das gripes. Se confirmada a efetividade em humanos, ele poderá proteger as populações de pandemias agressivas do H1N1 e do H5N1. Um estirpe mais raro do primeiro micro-organismo desencadeou gripe espanhola em 1918, que matou ao menos 20 milhões de pessoas no mundo. A Organização Mundial da Saúde estima que a gripe aviária tenha matado 370 pessoas desde 2003.

Vacina composta por um vírus modificado e injetada no nariz de ratos imunizou os animais contra as versões mais letais do H1N1 e do H5N1. Os pesquisadores acreditam ser possível reproduzir o efeito em humanos

Palavra de Especialista


Paulo Roberto Martins Queiroz, biólogo especialista em genética molecular e professor do Centro Universitário de Brasília

Surtos latentes

As infecções virais evoluem em ciclos. Como exemplo, temos as grandes infecções provocadas por vírus influenza ao longo da história humana. Essa situação vem da expansão populacional, da grande dificuldade no desenvolvimento de medicamentos antivirais e da obtenção de vacinas que imunizem contra muitas estirpes virais. Sendo assim, grandes surtos virais podem acontecer a qualquer momento. Nessa linha de raciocínio, o vírus influenza é forte candidato. Com a globalização, aumentamos ainda mais o risco de dispersão dessas estirpes virais pelo mundo. Caso o sistema público de saúde não esteja devidamente preparado, o risco de casos de infeção e de mortes é elevado. Outro complicador é que os agentes patogênicos provenientes de outros animais estabelecem uma relação um tanto complexa com o corpo humano. Isso vem do fato de não ter existido um contato anterior do vírus animal com o nosso sistema imune. Desenvolvemos estratégias celulares e moleculares para combater agentes estranhos ao nosso organismo, mas, quando temos um contato com um vírus que infecta outro sistema animal, se estabelece uma nova relação ecológica. Desenvolver resistência a eles leva tempo, pois envolve até a mesmo a seleção de indivíduos resistentes ao vírus.

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