Henrietta Lacks era mulher, negra, pobre e vivia no auge da segregação racial dos EUA no pós-guerra. Em sua época, não foi ninguém ; no máximo, a dona de um prontuário médico da ala de ;pessoas de cor; do Hospital Johns Hopkins, no qual era apontada como um ;espécime miserável;. Morta, até no espaço ela chegou. As células tumorais de Henrietta, retiradas sem seu conhecimento e autorização, foram enviadas para um experimento de gravidade zero em uma das primeiras missões espaciais americanas. Hoje, a descendente de escravos vive, por meio de culturas de laboratório, em todas as partes do mundo, e, só agora, 60 anos depois de sua morte, a família foi consultada sobre o uso do material em pesquisa.
As chamadas células HeLa (pronuncia-se rila) foram as primeiras provenientes de um câncer humano a sobreviver fora do corpo, dividindo-se infinitamente e, por isso, se transformaram em uma das mais importantes ferramentas da ciência. É praticamente impossível imaginar uma doença ou condição que não tenha sido estudada nessa linhagem ; de infecções virais a Aids e diversos tipos de câncer, passando por experiências de fertilização in vitro e clonagem. Quem tomou vacina contra a poliomielite, por exemplo, deve a proteção recebida a Henrietta Lacks. Foram as células imortais da mulher, vítima de câncer cervical em 1951, aos 31 anos, que permitiram testar a imunização.
Nem Henrietta nem seus familiares jamais foram recompensados por isso. A equipe que fez a biópsia no tumor da paciente não informou que tentaria cultivar as células da jovem. Até então, testes para manter tecidos humanos in vitro haviam sido frustrados. Surpreendentemente, por um motivo que ninguém sabe explicar até hoje, as células de Henrietta não apenas sobreviveram como jamais pararam de se dividir. Sessenta e dois anos depois da morte da americana, a cada 24 horas uma nova linhagem de células HeLa é reproduzidas em discos petri.
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