No fim da década de 1990, um conjunto de voluntários foi convidado para um experimento sobre a transferência de sensações do corpo para um objeto. No estudo, uma das mãos dos indivíduos permanecia escondida enquanto, próximo a ela, era posicionada a mão de um manequim, esta visível. De forma sincronizada, pinceladas eram aplicadas ao membro oculto e ao de mentira. Assim, a pessoa via o toque ocorrendo no manequim, mas experimentava uma sensação verdadeira. Os autores da pesquisa concluíram que, se a aparência e a posição da prótese fossem semelhantes às da mão real, os participantes passariam a considerar a peça como uma parte de seu corpo. Anos depois, outras investigações mostraram que o mesmo efeito ocorria independentemente da posição e da aparência da mão artificial. O fundamental era mesmo a sincronia de estímulos.
Relatado por Matthew M. Botvinick e Jonathan D. Cohen, ambos da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, o efeito ficou conhecido como ;a ilusão da mão de borracha;. Contudo, o motivo pelo qual o cérebro humano era enganado dessa forma permaneceu um mistério. Agora, de acordo com um artigo publicado hoje na revista científica Pnas pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, a sensação de que algo artificial é uma extensão do corpo pode ser explicada por uma hipótese com a qual ele trabalha desde o início de suas pesquisas à frente do projeto Andar de Novo. Segundo o especialista, testes com macacos mostraram que um estímulo visual pode ativar a área tátil do cérebro, responsável pelas sensações motoras.
;Esse é um resultado muito importante do ponto de vista da ciência básica porque muda o conceito de como a imagem corpórea é criada pelo cérebro. Ao mesmo tempo, sugere, do ponto de vista da ciência aplicada, que qualquer prótese usada por um paciente que tem lesões da medula, por exemplo, poderá ser assimilada pelo cérebro como se fosse uma extensão do corpo;, afirma Nicolelis ao Correio.
A confirmação gera um impacto importante no Andar de Novo, que tem como objetivo a construção de um exoesqueleto que pode ser dirigido por comandos cerebrais. A ideia do brasileiro é fazer com que, usando o equipamento, um deficiente físico sem os movimentos dos membros superiores e inferiores dê o chute inicial da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Com o novo conhecimento, será possível fazer o usuário do dispositivo não só chutar a bola, mas também senti-la.
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