Ciência e Saúde

Ganhadores do Nobel de Medicina preocupados com futuro da ciência nos EUA

Os NIH são os organismos mais afetados por estes cortes, visto que representam mais de 22% do orçamento da pesquisa científica com 31 bilhões de dólares anuais

Agência France-Presse
postado em 08/10/2013 06:00
Washington - Os cortes orçamentários realizados nos últimos anos ameaçam a proeminência científica e econômica dos Estados Unidos, lamentaram esta segunda-feira os co-ganhadores do Nobel de Medicina 2013, três americanos, um deles nascido na Alemanha.

"Durante os últimos cinco a sete anos, o orçamento dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH), dos quais dependemos todos e que fizeram dos Estados Unidos o grande motor das descobertas e da inovação biomédica, diminuíram de forma importante", destacou durante coletiva de imprensa James Rothman, professor de biologia molecular de Yale (Connecticut, nordeste).

O cientista foi contemplado esta segunda-feira pela Academia sueca ao lado de Randy Schekman, da Universidade da Califórnia em Berkeley e de Thomas Südhof, alemão naturalizado americano, de Stanford, Califórnia, por seus trabalhos sobre o mecanismo de transporte das moléculas no interior da célula, que permite principalmente uma compreensão melhor do diabetes do mal de Alzheimer.

"Cada vez é mais difícil para os jovens cientistas iniciarem uma carreira", lamenta James Rothman. "Se tiverem a sorte de obter fundos de pesquisa dos NIH, levarão anos" para ter um laboratório, enquanto que há 10 ou 15 anos levavam apenas um, lembrou.

Atualmente, "temo que não teria podido fazer minhas pesquisas e tomar os riscos necessários" que me levaram ao prêmio Nobel, insistiu o cientista, admitindo não ser "mais que um exemplo entre muitos pesquisadores".

Orçamento reduzido em 20% desde 2003

"Vejo hoje enormes possibilidades, mas também o desânimo dos jovens cientistas, que não devemos esquecer se quisermos manter este país na primeira categoria mundial", advertiu.

Dirigindo-se aos ultraconservadores religiosos americanos, Thomas Südhof afirmou que "a ciência está baseada na tradição judaico-cristã". "Devemos admitir como país que a ciência é o único caminho para um futuro durável", disse à AFP. "Não se pode construir uma ponte, nem cuidar das pessoas ou fazer nada sem ciência", reforçou o co-ganhador do Nobel de Medicina.

Mas quando a ciência vai de encontro a crenças ideológicas ou religiosas, "é denegrida ou rechaçada, considerada um produto do pensamento de esquerda", lamentou o doutor Südhof.

Segundo o cientista, "o maior desafio é fazer a opinião pública entender que não se pode estar ao mesmo tempo a favor e contra a ciência", que "para a maioria das pessoas é compatível com a fé" religiosa, considerou, destacando que se define a si mesmo como "agnóstico".

O professor Schekman, por sua vez, destacou a importância dos investimentos federais e do estado da Califórnia em suas pesquisas e afirmou que sem elas não teria podido fazer seu trabalho.

Ele também elogiou o ensino público superior, que permitiu aos seus pais de classe média mandar os cinco filhos para a universidade. Mas lamentou a redução dos recursos públicos e a atual explosão dos gastos com matrículas, que tornam mais difícil o acesso à educação universitária.

O doutor Francis Collins, diretor dos NHI, informou recentemente que seu orçamento havia registrado como consequência da inflação uma redução real de 20% desde 2003. A isto se soma um corte orçamentário na primavera, diante da falta de acordo no Congresso sobre o orçamento, que ameaça, segundo ele, 20.000 empregos na área da pesquisa.

Os NIH são os organismos mais afetados por estes cortes, visto que representam mais de 22% do orçamento da pesquisa científica com 31 bilhões de dólares anuais. Quatrocentos mil empregos dependem dos fundos de pesquisa biomédica concedidas pelos NIH, integrados por 27 institutos.

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