Cristiana Andrade
postado em 09/11/2013 15:24
Assim como outubro passou a ser o mês rosa, voltado para campanhas que lembram a prevenção do câncer de mama, novembro agora é azul, para alertar a sociedade brasileira sobre a importância da detecção precoce do câncer de próstata. Para reforçar a ideia e visando a informar melhor a população, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) acaba de atualizar suas recomendações para a doença e lança um livro com a compilação desses dados durante o 34; Congresso Brasileiro de Urologia, entre os dias 16 e 20 de novembro, em Natal (RN). Entre as novas indicações da entidade, está o aumento da idade para diagnóstico precoce do câncer de próstata: 45 anos, para homens com casos da doença na família, obesos ou negros, e 50 anos, para os demais. Antes, a recomendação era de, respectivamente, 40 e 45 anos.;A mudança é uma tendência mundial, baseada nos trabalhos científicos publicados nos últimos anos em vários centros mundiais especializados;, diz o presidente da SBU, Aguinaldo Nardi. Vinte e cinco especialistas ; entre urologistas, oncologistas e radioterapeutas ; se debruçaram por dois anos sobre pesquisas da doença para definir diretrizes a serem seguidas pelos médicos brasileiros. As últimas recomendações da entidade tinham mais de cinco anos e estavam defasadas.
Segundo Nardi, a alteração na idade mínima será feita porque há um excesso de diagnósticos de câncer de próstata que não se desenvolveriam de forma agressiva. ;São os chamados cânceres indolentes. O homem tem câncer, mas ele não chega a ser invasivo, não sai da próstata. E ele se desenvolve tão lentamente que não traria problemas. Acredita-se que cerca de 20% dos tumores sejam indolentes;, explica. O urologista Carlos Corradi, chefe do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz ainda que o excesso de diagnóstico leva a exames e tratamentos desnecessários, que podem causar efeitos colaterais, como disfunção erétil e incontinência urinária.
O problema disso, reconhece Nardi, é que não existe um marcador de risco que aponte com segurança se o câncer diagnosticado no paciente será agressivo. Por isso, foram estabelecidos critérios para definir qual seria o câncer indolente. ;Se a biópsia da próstata apontar no máximo dois fragmentos alterados que estejam menos de 50% comprometidos, e o resultado do exame de PSA (proteína que, em níveis aumentados, pode indicar existência de câncer) for menor do que 10, a suspeita é de que esse será um câncer indolente;, diz. Nesses casos, a indicação será monitorar o PSA a cada três meses e refazer a biópsia a cada dois anos.
Referências
A nova indicação de aumento da idade para os exames no Brasil seguiu dois estudos desenvolvidos no exterior: um nos Estados Unidos e um na Europa (esse, com 160 mil homens, acompanhados desde 1990), segundo Corradi. ;O que essas pesquisas mostraram é que, antes dos 40 anos, o câncer de próstata é muito raro e, depois dos 45, muito frequente, em homens brancos. No Brasil, somos miscigenados, com forte ascendência negra, etnia que tem alta prevalência de câncer. Então, quem tem pai, irmão ou tio com histórico de câncer de próstata tem risco maior de desenvolver a doença e deve estar muito atento a partir dos 45 anos;, acrescenta Carlos Corradi, que acaba de ser eleito presidente da SBU e toma posse em duas semanas.
Questionado sobre o porquê de o Brasil não desenvolver os próprios parâmetros médicos e usar, na maioria das patologias, referências do exterior ; cujas populações são distintas, com hábitos alimentares e de vida diferentes dos nossos ;, Corradi alega que a Sociedade Brasileira de Urologia tem buscado construir esses referenciais, mas estudos dessa magnitude levam anos. ;O HC/UFMG está desenvolvendo um novo exame de câncer de próstata que pode ser revolucionário, mas que estará mais concreto em quatro anos;, cita.
Aguinaldo Nardi acrescenta que o rastreamento oportunista (quando o homem procura voluntariamente o médico para fazer exames a partir de uma certa idade) precisa existir como forma de prevenção do câncer de próstata, assim como as mulheres têm indicações para procurar o ginecologista e o mastologista para ser submetida a exames de papanicolau e da mama, respectivamente. ;Todo homem com mais de 50 anos deve ir ao médico fazer os exames de PSA e de toque retal;, acrescenta Nardi.
No caso de homens de pele negra, obesos ou que tenham histórico familiar, a recomendação muda de 40 anos para 45. Segundo explica o oncogeneticista Henrique Galvão, do Laboratório Hermes Pardini, de Belo Horizonte, a população negra entra no mesmo grupo de quem tem histórico familiar, porque ela tem um conjunto de genes chamados de baixa penetrância que, isoladamente, não apresentam riscos do desenvolvimento de tumores, mas juntos, sim. ;Essa questão é mais teórica do que prática, pois não temos um exame específico que nos indique isso. Daí, usamos a questão étnica como forma de prevenção maior;, diz.
Tabu
Diferentemente da mulher, que busca a primeira consulta com um ginecologista quando tem as primeiras relações sexuais, o homem raramente procura um especialista antes de sentir alguma coisa. ;O governo não liga para a saúde do homem, na rede básica de atendimento não há um direcionamento. A mulher tem mamografia, campanha do Outubro Rosa, e o homem, nada. Outro fator é que a maioria se acha super-homem, que nada vai lhe ocorrer. O homem só pensa em trabalhar. Isso sem contar com o machismo e o tabu sobre sexo. E ele não gosta de falar sobre isso. Então, quando vai descobrir um câncer, a doença já está muito avançada. Muitos homens preferem morrer da doença a passar pelo exame do toque, que é simples e rápido;, acrescenta Carlos Corradi.
Frente parlamentar é lançada
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) conseguiu sensibilizar o Legislativo federal para a saúde do homem brasileiro. Na segunda-feira passada, senadores e deputados federais homenagearam a entidade pelas ações de esclarecimento sobre o câncer de próstata. Os parlamentares lançaram, um dia depois, a Frente Parlamentar de Atenção Integral à Saúde do Homem, liderada pelo deputado Jorge Silva (Pros-ES) e com mais de 200 deputados. ;Avançar no combate ao câncer de próstata é a primeira ação da frente;, disse. Uma das tarefas mais importantes da frente é atuar para melhorar as dificuldades de acesso do homem brasileiro ao sistema de saúde pública e as informações sobre os exames necessários para evitar a doença. Diagnosticados no início, 90% dos tumores são curáveis.