Ciência e Saúde

Efeito cheerleader: pessoas parecem mais atraentes quando estão em grupo

O fenômeno, agora testado em laboratório, foi descrito pela primeira vez em uma obra sem nenhuma pretensão científica: um seriado cômico da televisão norte-americana

Bruna Sensêve
postado em 24/11/2013 06:08
Antes mal acompanhado do que só. O conhecido ditado se inverte quando o assunto são as leis da atração. Pelo menos foi o que concluiu uma dupla de pesquisadores da Universidade de San Diego, na Califórnia, que demonstrou a existência do chamado efeito cheerleader (líder de torcida, em inglês). O fenômeno, agora testado em laboratório, foi descrito pela primeira vez em uma obra sem nenhuma pretensão científica: um seriado cômico da televisão norte-americana. Em How I met your mother, o personagem mulherengo Barney Stinson, interpretado por Neil Patrick Harris, contesta os elogios rasgados que seus amigos dirigem a um grupo de seis moças em um bar. ;Um grupo de mulheres parece muito atraente, mas somente em grupo, assim como as líderes de torcida. Elas parecem muito atraentes, mas, analisando cada uma individualmente, cães sarnentos;, rebate.

Os amigos, a princípio, não acreditam. Barney pede que observem as moças isoladamente, sem a interferência do grupo. Surgem na tela, então, closes de mulheres caolhas, bigodudas e banguelas. Entre elas, inclusive, está um homem vestido de mulher. Para o personagem de Harris, o efeito também pode ser facilmente intitulado de ;o paradoxo da madrinha de casamento;, ;a síndrome da garota da fraternidade; ou, por um breve período dos anos 1990, ;a conspiração das Spice Girls;. Pois essa teoria aparentemente absurda foi testada e comprovada em cinco experimentos reais, cujos dados foram divulgados este mês na revista Psychological Science.

Para os autores do estudo, o efeito cheerleader é produzido por fatores cognitivos humanos. Ao observar um grupo de pessoas, o sistema visual calcula automaticamente representações do conjunto de rostos apresentados. Os membros individuais do grupo são uma tendência para que seja tirada uma ;média; da aparência do conjunto. Essa média dos rostos seria mais atraente que os indivíduos separadamente, como se houvesse um equilíbrio entre as características físicas negativas e positivas ; algo impossível de ser feito para apenas um indivíduo.

Os rostos medianos seriam mais atraentes porque o sistema visual criaria uma espécie de padrão que ignora algumas particularidades de cada pessoa, normalmente, as imperfeições. Para descrever esse fenômeno, um dos autores da pesquisa, Drew Walker, parafraseia o escritor russo Leon Tolstoi no início de uma de suas obras mais famosas, Anna Karenina: ;Todas as pessoas bonitas se parecem, cada pessoa não atraente é não atraente à sua maneira;.

Palavra de especialista

"Essa formação de um padrão médio entre as pessoas de um grupo vem da ideia de Gestalt. Se eu desenho três pontos, você não percebe que são apenas três pontos, mas os vê formarem um triângulo. Porque a gente conecta os pontos, os objetos. A área que estuda isso é a Gestalt: você vê um campo que é maior que as suas partes. É uma interpretação do que estamos vendo. O que eles descrevem tem muito haver com essa questão de interpretar para além dos componentes individuais. Especificamente, tem essa questão do que é atrativo. Eles fizeram estudos mostrando que usamos um padrão, que o rosto mais atrativo de todos pode ser gerado sobrepondo as características de todos os rostos das pessoas do grupo. Então, o mais atrativo seria uma média dos atributos individuais."

Elizabeth Barham, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos

A matéria completa está disponível aqui para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação