postado em 26/11/2013 10:51
Seguido por pelo menos 500 milhões de pessoas em todo o mundo ; 230 mil delas no Brasil ;, o budismo é uma filosofia religiosa que se sustenta principalmente na tradição oral e em textos redigidos centenas de séculos depois do nascimento do primeiro buda. Agora, uma equipe internacional de arqueólogos encontrou uma evidência histórica da vida de Sidarta Gautama no Templo Maya Devi, em Lumbini, no Nepal. Ela data do século 6 a.C., quando se acredita que o príncipe tenha nascido.
Os pesquisadores, financiados pela National Geographic Society e pelas universidades de Durham e de Stirling, encontraram uma estrutura de madeira no templo nepalês, patrimônio mundial da humanidade segundo a Unesco, e identificado pela tradição como o local de nascimento de Sidarta. No subsolo do prédio religioso, sob camadas de tijolos que até então também não se sabia existir, eles descobriram os restos de um relicário de madeira com um espaço aberto no centro que, segundo os arqueólogos, tem ligação com a história do nascimento do príncipe.
Segundo a tradição budista, a rainha Maya Devi, mãe de Sidarta, deu à luz o herdeiro enquanto segurava o galho de uma árvore dentro do jardim de Lumbini, que ficava no meio do caminho entre o reino de seu marido e o pertencente aos seus pais. Para os arqueólogos, o espaço aberto no centro da estrutura de madeira encontrada durante as escavações acomodava essa árvore.
Lumbini é um dos lugares-chave associados à vida de buda. Os outros são Bodh Gaya, onde Sidarta se tornou o iluminado, Sarnath, onde pregou pela primeira vez, e Kusinagara, local em que morreu. Pouco antes de falecer, aos 80 anos, Buda teria recomendado que todos seus seguidores visitassem Lumbini. Em meados do primeiro milênio depois de Cristo, o relicário ainda era bastante popular ; fontes textuais da autoria de peregrinos chineses indicavam que, nesse local, havia uma árvore.
Fontes escassas
Até agora, a evidência arqueológica mais antiga sobre o fundador do budismo datava do terceiro século antes de Cristo, época em que o imperador Asoka se converteu e espalhou a religião por locais onde, hoje, vão do Afeganistão a Bangladesh. ;Sabe-se muito pouco sobre a vida de buda, exceto por meio de fontes textuais e da tradição oral;, diz o arqueólogo Robin Coningham, da Universidade de Durham, um dos líderes da expedição.
Segundo ele, por causa disso, alguns estudiosos acreditavam que o buda teria nascido apenas em 3 a.C. ;Nós pensamos: ;Por que não recorremos à arqueologia para tentar responder algumas das questões sobre seu nascimento? Agora, pela primeira vez, temos uma sequência arqueológica em Lumbini, que mostra uma construção nesse local, datando de 6 a.C.;, diz.
Liderados por Coningham e pelo arqueólgo nepalês Kosh Prasad Acharya, os pesquisadores disseram que a descoberta contribui para um entendimento maior do início do desenvolvimento do budismo, assim como a importância espiritual do local escavado. Os achados serão publicados na revista especializada Antiquity de dezembro e aparecerão em um documentário da National Geographic em fevereiro do ano que vem.
Para determinar as datas da estrutura de tijolo e do relicário de madeira, fragmentos de carvão e grãos de areia que os cobriam foram analisados por uma tecnologia que combina radiocarbono e luminescência óptica. A pesquisa geoarqueológica confirmou também a presença de antigas raízes de árvores dentro do oco central do templo.
Meditação
;Essas descobertas são muito importantes para aprendermos mais sobre o local de nascimento de buda;, disse Ram Kumar Shrestha, ministro da Cultura, do Turismo e da Aviação Civil do Nepal. ;O governo nepalês não medirá esforços para preservar esse significativo sítio arqueológico;, garantiu.
Hoje, o templo de Maya Devi continua sendo um relicário vivo ; enquanto os arqueólogos trabalhavam, monges e peregrinos não paravam de meditar. Perdido no meio da selva nepalesa durante o período medieval, Lumbini foi redescoberto em 1896 e identificado como o local de nascimento de buda devido à presença de um pilar de arenito datando do século 3 a.C. O pilar, que ainda existe, exibe uma inscrição registrando a visita do imperador Asoka ao templo sagrado.
Apesar da redescoberta no século 19, os primeiros níveis do templo continuaram misteriosos porque ficaram soterrados ou foram destruídos em decorrência de construções posteriores. Assim, as evidências dos primeiros estágios do budismo ficaram, por muito tempo, inacessíveis aos arqueólogos.