Ciência e Saúde

Osso de Neandertal reforça tese de miscigenação entre humanos primitivos

Os cientistas compararam o genoma com aqueles de dois outros grupos humanos que compartilharam o planeta na mesma época

Agência France-Presse
postado em 18/12/2013 21:13
Paris - O minúsculo osso de um dedo do pé de uma mulher Neandertal que viveu há cerca de 50.000 anos revela que algumas linhagens humanas primitivas se miscigenaram antes que um único grupo, o "Homo sapiens", ascendesse e dominasse os demais.

O osso fornece a última peça de um projeto lançado em 2006 pelo antropólogo evolutivo europeu Svante Paabo de usar um DNA antigo para rastrear a odisseia humana.

Em estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature, uma equipe reportou que o osso adiciona um conhecimento genético extraordinário sobre os nossos primos, os Neandertais, que desapareceram cerca de 30.000 anos atrás.

Os cientistas compararam o genoma com aqueles de dois outros grupos humanos que compartilharam o planeta na mesma época. Eram eles os denisovanos - outro subgrupo misterioso, que teve vestígios descobertos na Sibéria - e os "Homo sapiens", como são chamados os Homens anatomicamente modernos.



A comparação aponta para a miscigenação - o "fluxo genético" na linguagem científica - entre os três grupos, embora sua extensão tenha sido, limitada. Entre 1,5% e 2,1% dos genomas dos humanos atuais podem ser atribuídos aos neandertais, revelou o estudo. A exceção são os africanos, que não têm contribuição dos neandertais.

"Não sabemos se a miscigenação aconteceu uma vez, onde um grupo de Neandertais se misturou com os humanos modernos, se não voltou a acontecer ou se os grupos viveram lado a lado, e se houve miscigenação por um período prolongado", afirmou Montgomery Slatkin, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley.

Os denisovanos também deixaram sua marca no Homem moderno. Estudos anteriores revelaram que cerca de 6% dos genomas dos aborígines australianos, dos neoguineanos e alguns povos insulares do Pacífico vieram deste grupo. A nova análise revelou que os genomas da etnia Han, majoritária na China, e de outras populações asiáticas, assim como dos nativos americanos, contêm cerca de 0,2% de genes dos denisovanos.

Os Neandertais, por sua vez, contribuíram com pelo menos 0,5% de seu DNA com os denisovanos. Segundo o novo estudo, os dois grupos têm um passado genético intrigante. Cerca de 5% do genoma dos denisovanos vêm de algum antepassado mais antigo. Uma hipótese é que este antepassado é o "Homo erectus", segundo Kay Pruefer, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, que chefiou a comparação.

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