Ciência e Saúde

Populações de espécies de carnívoros, como leões e ursos, estão em declínio

O fenômeno provoca um desequilíbrio ambiental que preocupa especialistas

Paloma Oliveto
postado em 10/01/2014 06:05
O fenômeno provoca um desequilíbrio ambiental que preocupa especialistas

A aparência deles é assustadora. Mas, agora, com a crescente agressão a seus hábitats, eles que estão assustados. A Terra está perdendo os grandes mamíferos carnívoros, um grupo diverso que inclui animais como leões, tigres e ursos. Um estudo publicado na edição desta semana da revista Science mostra que 24 das 31 espécies conhecidas (mais de 75%) estão em declínio, principalmente nas regiões da Amazônia venezuelana, do sudeste Asiático e do leste da África.

Os autores do artigo alertam: as nações em desenvolvimento estão no mesmo caminho dos países ricos que, com raras exceções, já exterminaram essas acuadas feras. Em consequência, há um desequilíbrio ecológico que acaba atingindo plantas, pássaros, répteis e insetos. ;No geral, as pessoas não pensam no efeito cascata da perda de um predador no ecossistema. Mas ele é grande;, afirma William Ripple, pesquisador do Departamento Florestal da Universidade de Oregon e principal autor do estudo.



Para exemplificar, ele cita o que ocorreu na floresta venezuelana na década de 1980, quando uma região foi inundada para a construção da Hidrelétrica de Guri. ;Esse, até então, intacto sistema tropical era composto por uma rica cadeia alimentar, com ligações múltiplas entre as espécies;, descreve. A inundação fragmentou a área onde corria o Rio Caroni, que ficou dividida em diversas ilhas.

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A consequência foi trágica: toda a população de mamíferos carnívoros, formada principalmente por jaguares, pumas e texugos, desapareceu. Esse também foi o destino de outros animais, como águias, anacondas e tatus. Os que conseguiram nadar ou voar migraram. Outros morreram de fome.

A ausência dos principais predadores resultou em uma explosão de presas ; macacos, iguanas e formigas se disseminaram desordenadamente ao longo das ilhas, provocando um grave desequilíbrio ambiental. ;Esse efeito não se limitou aos animais. Como houve um êxodo de espécies polinizadoras e semeadoras, a flora também foi impactada. Com isso, até as quantidades de carbono e nitrogênio no solo sofreram alterações;, recorda Ripple.

Intervenção
Ao fazer uma revisão de 103 estudos sobre os hábitats onde vivem os grandes carnívoros, a equipe do cientista constatou que as consequências da perda desses animais para o restante do ecossistema são maiores do que os próprios pesquisadores imaginavam. ;Isso significa que o papel dos mamíferos carnívoros no planeta é ainda mais complexo. Nós precisamos intervir antes que seja tarde. Ainda temos tempo de fazer alguma coisa, e o momento de agir é agora. Uma grande prioridade é identificar estratégias de conservação que garantam a coexistência pacífica com os homens;, adverte Aaron J. Wirsing, coautor do estudo e pesquisador da Faculdade de Ciências Florestais e Ambientais da Universidade de Washington (Seatlle). ;A importância dos grandes carnívoros para a natureza é muito grande; é tão grande que, até hoje, eles parecem insubstituíveis. Quando o homem tenta replicar os efeitos desses animais no ecossistema, as tentativas são frustradas;, observa.

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