Ciência e Saúde

Apenas 20 araras-azuis nasceram em 2013, número preocupa pesquisadores

A contagem foi realizada pela equipe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave) com voluntários do ICMBio, durante uma expedição entre 8 e 10 de novembro

postado em 13/01/2014 08:34
Arara-azul-de-lear fotografada nos paredões da Estação Ecológica Raso da Catarina, em Jeremoabo (BA)

Além do alerta de risco de extinção da onça-pintada na Mata Atlântica, outro dado preocupa ambientalistas brasileiros. O novo recenseamento da arara-azul-de-lear, na região do Raso da Catarina, em Jeremoabo (BA), a 400km de Salvador, trouxe números desanimadores: só 20 novos animais nasceram em 2013, totalizando 1.280 aves. A contagem foi realizada pela equipe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave) com voluntários do ICMBio, durante uma expedição entre 8 e 10 de novembro.

A equipe, de 22 pessoas, foi selecionada e treinada em maio. ;São feitas duas contagens de teste antes da oficial;, esclarece Antonio Eduardo Araujo Barbosa, 31 anos, analista ambiental do Cemave/ICMBio e coordenador do Plano de Ação da Arara-azul-de-lear. Ele conta que a equipe se dividiu em dois grupos e se posicionou em pontos estratégicos. ;Acompanhamos essa espécie há 10 anos e temos mapeados os locais onde ela dorme e se reproduz. Fazemos a contagem no momento que elas saem para a área de alimentação. Elas são contadas na saída e na chegada;, explica.



Há dois dormitórios da espécie no Raso da Catarina: Toca Velha, na Estação biológica de Canudos, e Serra Branca, na Estação Ecológica Raso da Catarina. ;Usamos rádios de comunicação para evitar a duplicidade de contagem;, acrescenta o analista. O grupo foi a campo mensalmente, de junho a novembro, permanecendo três dias acampado a cada expedição. O trabalho de contagem leva no máximo uma hora em cada turno (manhã e fim de tarde), mas é preciso madrugar, porque, ao primeiro sinal de luz, as aves saem dos seus ninhos. Do mesmo modo, a equipe fica no local até perder a condição de luminosidade.

Desmatamento
Barbosa explica que vários fatores são responsáveis pelo discreto aumento no número de araras no Raso da Catarina. Os pesquisadores acreditam que a espécie é monogâmica ; os psitacídeos, em geral, são. Além disso, normalmente, cada ave só tem dois filhotes e se reproduz apenas uma vez ao ano. A reprodução da arara-azul-de-lear ocorre de dezembro a julho (as mais retardatárias). Em abril, os filhotes já estão saindo do ninho.

;Em 2012, houve uma seca grande na região e afetou a reprodução das aves em 2013. A seca ainda persiste;, ressalva o pesquisador. A arara se alimenta especialmente do licuri, fruto da palmeira, mas também da flor do mandacaru, da baraúna e do umbu. Segundo o analista ambiental, o sucesso reprodutivo do animal está associado à condição de encontrar alimentação na natureza. A espécie só põe os ovos de que terá condição de cuidar. Atualmente, a arara é categorizada como ;em perigo;. Barbosa conta que levou 10 anos para a espécie subir a essa categoria.

Muitos projetos são responsáveis por esse avanço. Há o Programa de Ressarcimento de Milho, por exemplo. Com o crescimento da população e a expansão da agricultura, as pessoas estão desmatando mais e falta alimento para as aves. Com isso, a espécie se aproxima do convívio com os humanos e acaba atacando as lavouras de milho. ;Isso gera conflito e os pequenos produtores abatem as aves. Como medida emergencial, pensou-se em um programa de ressarcimento das perdas. O problema é que o projeto, que começou em 2005, não consegue contemplar todos os agricultores;, ressalva.

Há ainda o trabalho de geração de renda por meio do artesanato nas comunidades que moram em regiões onde há o licuri. ;A ideia é usar só a madeira de árvores mortas para incrementar a renda familiar. Dessa forma, não competem com a arara;, explica. Além disso, é desenvolvido um forte trabalho de educação ambiental nessas localidades. ;A comunidade hoje se apropriou da espécie. A arara-azul-de-lear é símbolo da região;, conta.

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