Paloma Oliveto
postado em 14/03/2014 07:00
Tomar um copo de leite sem passar mal é um luxo para a maioria das pessoas que, quando saem da infância, começam a se tornar sensíveis à bebida. Enquanto as crianças têm níveis altos da enzima lactase, o que as faz digerirem com facilidade o ingrediente, à medida que a idade avança, a quantidade dessa substância decai no organismo. Um terço da população mundial, contudo, é capaz de manter a mesma tolerância à lactose ; o açúcar do leite ; que tinha quando bebê. A variante genética que confere essa habilidade foi uma vantagem evolutiva que surgiu na África com o advento do pastoralismo, de acordo com um estudo publicado na edição desta semana da revista Journal of Human Genetics.
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Os pesquisadores da Universidade da Pensilvânia rodaram o globo atrás de etnias tolerantes à bebida. Eles investigaram três regiões do genoma de 819 africanos pertencentes a 63 grupos distintos e de 154 não africanos de nove populações na Europa, do Oriente Médio e do leste asiático. Além disso, foram realizados testes de digestão da lactose em 513 indivíduos do leste da África. ;A análise fornece fortes evidências de uma seleção positiva em diversas variantes genéticas associadas à tolerância à lactose em populações africanas. Provavelmente, isso ocorreu em resposta ao desenvolvimento cultural do pastoralismo;, explica Sarah Tishkoff, professora do Departamento de Genética da universidade e principal autora do estudo.
De acordo com ela, os locais distintos onde essas variantes foram encontradas estão relacionados, em muitos casos, com a história das migrações humanas. ;À medida que os pastores se deslocavam geograficamente, comercializando gado, camelos e ovelhas, também houve misturas entre as etnias. Algumas populações acabaram herdando a tolerância à lactose graças a esse mix racial;, acrescenta. A especialista conta que esse é o primeiro estudo em larga escala sobre o tema. ;Nossa pesquisa conta fatos tanto sobre a base genética e evolutiva de um traço biologicamente relevante dos humanos quanto traz informações sobre a origem do pastoralismo na África;, diz Alessia Ranciaro, geneticista da Universidade da Pensilvânia que também assina o artigo.