Ciência e Saúde

Ondas gravitacionais que teriam dado origem ao universo sao identificadas

A detecção do movimento ondulatório da energia foi anunciada no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambrigde, nos Estados Unidos

Paloma Oliveto
postado em 18/03/2014 11:07
A detecção do movimento ondulatório da energia foi anunciada no Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambrigde, nos Estados UnidosHá 13,8 bilhões de anos, uma partícula subatômica começou a se inflar tão rapidamente que, no inimaginável intervalo de um quadrilionésimo de segundo, adquiriu a forma de uma bola de futebol. Era o despertar do Universo. Dentro dessa gota de energia condensada, ocorria um turbilhão de atividades, que dariam origem a galáxias, estrelas, planetas e, finalmente, ao homem. Esse movimento de expansão deixou sua marca, jamais apagada, mas só agora identificada: as ondas gravitacionais. A detecção do movimento ondulatório da energia foi anunciada nessa segunda-feira (17/3) em uma coletiva de imprensa do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, em Cambrigde, nos Estados Unidos.

Em sua teoria da relatividade, Albert Einstein propôs a existência desses movimentos sinuosos pelo espaço-tempo, provocados pelo deslocamento de objetos. Tal como um barco imprime ondas no mar, a energia resultante do nascimento do Cosmos ;amarrota; o tecido universal à medida que se desloca.



Segundo o físico, a gravidade é a forma como a massa deforma o espaço. Perto de qualquer corpo massivo, o espaço fica curvado. Mas a ondulação não se concentra junto ao objeto que a provocou. Einstein disse que, na realidade, ela pode se propagar pelo Universo, da mesma forma que as ondas sísmicas se deslocam por toda a crosta terrestre. Diferentemente destas, porém, as gravitacionais são capazes de viajar no espaço vazio, à velociadade da luz. Detectar a existência dessas entidades era o que faltava para validar as ideias de Einstein e a teoria da inflação cósmica, proposta na década de 1980 e que tem como base a teoria da relatividade.

Há décadas os cientistas escaneiam o céu em busca dessas ondas invisíveis. ;Ao detectá-las, você tem nas suas mãos muita informação sobre o processo inflacionário do nosso Universo;, justifica John Carlstrom, professor de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Chicago. ;Existem muitas ideias diferentes sobre a origem do Universo, mas apenas uma delas diz ter havido o big bang, essa flutuação quântica incrível. Ela é única também que prevê a existência de ondas gravitacionais em níveis detectáveis;, diz ao Correio. Ao identificar a atividade das ondulações, o cientista acredita que pouco poderá ser argumentado, agora, contra a teoria de que o Universo nasceu de uma gotinha de energia, que foi inflando e assim continuará infinitamente.

Espiral


As ondas gravitacionais foram encontradas pelo telescópio Bicep (sigla em inglês para Imagem de Fundo de Polarização Cósmica Extragalática). Esse instrumento, localizado no Polo Sul, investiga a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, um sinal eletromagnético surgido quando o Universo era bastante jovem ; apenas 380 mil anos. Naquela época, as estrelas nem sequer haviam sido criadas, e a matéria vagava pelo espaço em forma de plasma. Esse tipo de radiação só poderia ter origem em uma fonte de calor condizente com a resultante da inflação do cosmos em suas primeiras frações de segundo de vida, explica Carlstrom. Modelos de computador indicavam que a passagem das ondas gravitacionais primordiais pelo plasma seguiria um padrão de espiral. Foi exatamente isso que o Bicep detectou.

;Essa é uma evidência cosmológica totalmente nova de que a teoria inflacionária se sustenta;, disse ao site da revista Nature o físico teórico Alan Guth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Foi ele que propôs a teoria da inflação do Universo, em 1980. Para Guth, a descoberta merece um prêmio Nobel. Em um comunicado de imprensa, Clem Pryke, pesquisador da Universidade de Minnesota que participou do estudo, disse que a força do sinal de propagação das ondas é mais forte do que o imaginado. ;Foi como procurar uma agulha no palheiro, e, em vez disso, achar um pé de cabra;, comparou. ;Detectar esse sinal era um dos objetivos mais importantes da cosmologia;, completou John Kovac, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, que liderou a pesquisa.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação