Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Socióloga diz o que motiva as pessoas a se confessarem em público

A vontade de ouvir a opinião de um especialista e o desejo de receber atenção ou de sentir-se aprovado estão entre os motivos

Ao zapear pelos canais de televisão, não é raro o espectador se deparar com homens e mulheres comuns discutindo, sem constrangimento, questões íntimas diante da plateia e das câmeras. O que as leva a se exporem dessa maneira? Essa pergunta, que passa pela cabeça de muitos, foi feita também pela socióloga da Universidade de São Paulo (USP) Maíra Muhringer Volpe, que decidiu investigar a motivação dessas pessoas durante seu doutorado. No estudo, ela percebeu que a recompensa financeira que algumas dessas atrações oferecem não é a única ; nem mesmo a principal ; causa da participação. A vontade de ouvir a opinião de um especialista, sentir-se aprovado por terceiros ou mesmo de ter visibilidade aparecem como outras razões mais mencionadas pelos entrevistados.



Volpe explica que a ideia para a pesquisa surgiu na época do mestrado, quando ela estudou a literatura de autoajuda. ;Nessa pesquisa anterior, analisei como os especialistas ensinavam os pais a lidarem com os filhos por meio de colunas de jornais e revistas, livros, palestras e programas de televisão. Dessa forma, vi como a simplificação do discurso científico ; veiculado ao grande público; ganhava força;, lembra. ;No meu doutorado, fui buscar outros discursos;, explica.

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Durante três anos, ela visitou os estúdios onde duas atrações televisivas desse tipo eram gravadas e o teatro que servia à produção de um programa de rádio semelhante. Volpe concluiu que, muito além da motivação financeira, os participantes buscavam ouvir opiniões sobre seus problemas pessoais. ;O que eles recebiam para participar (na tevê) era uma quantia pequena. Percebi, com as entrevistas, que outras motivações mais fortes existiam. Muitas pessoas, por exemplo, queriam mostrar como estavam bem em determinada situação para terceiros, que nem estavam envolvidos no problema a ser discutido no palco. Também encontrei casos de participantes que aspiravam a uma carreira artística e achavam que aquela participação enriqueceria o currículo;, conta.

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