Ciência e Saúde

Pesquisa aponta que filtragem da fumaça no narguilé não funciona

Experimento feito com 55 fumantes nos Estados Unidos comprova que o dispositivo não elimina as substâncias causadoras de câncer, doenças cardíacas e respiratórias

Bruna Sensêve
postado em 17/05/2014 08:00
Uma sessão de narguilé dura de 20 a 80 minutos e equivale a 100 cigarros tradicionais: ameaça intensa ao corpo
Cachimbos de água são usados para fumar tabaco e outras substâncias na África e na Ásia por pelo menos quatro séculos. A história mais conhecida, mas não completamente comprovada, conta que o narguilé foi inventado no século 17, na Índia, pelo médico Hakim Abul Fath. O objetivo principal era justamente encontrar uma forma de retirar as impurezas da fumaça. Projeto não alcançado, segundo pesquisadores norte-americanos. De acordo com um estudo publicado hoje na Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, um jornal da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, jovens adultos que usaram o dispositivo em bares da cidade de São Francisco apresentaram níveis bastante elevados das mesmas substâncias cancerígenas encontradas no cigarro manufaturado.

O narguilé ; também conhecido como hookah, shisha ou goza ; é uma espécie de instrumento no qual uma mistura de tabaco é aquecida por uma brasa e a fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada pelo fumante. Por envolver um processo distinto, muitos tendem a pensar que o dispositivo não é prejudicial à saúde ou causa menos estragos que o cigarro comum. Para enterrar completamente essa ideia, cientistas liderados por Gideon St.Helen, da Divisão de Farmacologia Clínica e do Centro de Pesquisa do Controle de Tabaco e Educação da Universidade da Califórnia, em São Francisco, analisaram amostras da urina de 55 fumantes experientes.



Os voluntários tinham entre 18 e 48 anos e foram instruídos a não usar qualquer tipo de fumo por uma semana. No fim desse período, forneceram uma amostra de urina para a referência inicial. Em seguida, foram orientados a passar uma noite usando o narguilé em um bar de preferência. Logo após a visita, entregaram uma nova amostra de urina e preencheram um formulário com as informações detalhadas sobre a sessão de fumo, incluindo o tempo total gasto, o número de pratos de tabaco usados e de pessoas que compartilharam o dispositivo. Os participantes forneceram ainda uma primeira amostra de urina na manhã seguinte, o que ajudou os pesquisadores a estimar o apuramento das substâncias químicas relacionadas com a atividade. Pela coleta de dados, descobriu-se que eles passaram em média 74 minutos fumando e fumaram 0,6 prato de tabaco por pessoa.

Após uma única noite de tabagismo, as pessoas apresentaram um aumento de 73 vezes de nicotina na urina; quatro vezes de cotinina (metabólico produzido pelo corpo ao ser exposto à nicotina); duas vezes de NNAL e NNK, substâncias que podem causar câncer de pulmão e de pâncreas. O incremento nos produtos de degradação de compostos orgânicos voláteis, como benzeno e acroleína, ficou entre 14% e 91%. Eles são conhecidos por também causar câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias. ;O aumento significativo nos níveis de nicotina levanta preocupações sobre a dependência potencial de fumar cachimbos com água e possíveis efeitos sobre o cérebro em desenvolvimento de crianças e jovens que compartilham os filtros de água;, alerta St.Helen.

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