Não é por acaso que o Planalto Tibetano é comumente chamado de Teto do Mundo. A altitude da região chega a alcançar os 5 mil metros em alguns pontos, gerando uma pressão atmosférica até 40% menor que a encontrada em outras regiões do planeta. Essas condições tornam o lugar inóspito. Exceto, é claro, para os tibetanos. Em um estudo publicado na edição de hoje da revista Nature, pesquisadores afirmam ter descoberto o ingrediente secreto que permitiu a essa população se estabelecer ali há milênios: genes herdados dos denisovanos, espécie de hominídeos extinta há mais ou menos 50 mil anos.
O trabalho, liderado por Rasmus Nielsen, da Universidade da Califórnia, amplia a compreensão sobre a adaptação humana para diversos ambientes (incluindo temperaturas e altitudes extremas) e também sobre a suscetibilidade ou resistência que o Homo sapiens tem a algumas doenças. Segundo os autores, esta é a primeira vez que o gene de outra espécie é relacionado, de forma inequívoca, à seleção natural que deu a um grupo humano a capacidade de resistir a condições que colocam o organismo no limite.
Estudos anteriores haviam mostrado, nos habitantes do Tibete, algumas variações no gene EPAS1, relacionado à hipóxia (índices baixos de oxigênio nos tecidos). O próprio Nielsen relatou, em 2010, a prevalência desse traço no DNA dessa população. Na pesquisa mais recente, ele e colegas sequenciaram novamente a região em torno do EPAS1 em 40 tibetanos e 40 chineses de etnia han. O que viram foi uma variação extrema na estrutura do gene até então só encontrada no genoma dos denisovanos.
De acordo com a pesquisa, 87% dos tibetanos têm a versão que confere resistência à alta altitude, enquanto só 9% dos chineses han apresentaram o traço. ;Nossa descoberta sugere que a troca de genes pelo acasalamento do Homo sapiens com espécies extintas pode ter sido mais importante na evolução humana do que se pensava anteriormente. Os biólogos evolucionistas chamam esse processo de introgressão adaptativa;, diz Nielsen.
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