Ciência e Saúde

HIV ainda assombra um perfil diversificado de pessoas, dizem especialistas

Especialistas alertam que a redução da mortalidade e da infecção causadas pelo vírus da Aids não pode minimizar o caráter ameaçador dele

Bruna Sensêve
postado em 11/07/2014 08:27
Especialistas alertam que a redução da mortalidade e da infecção causadas pelo vírus da Aids não pode minimizar o caráter ameaçador deleEm pouco mais de 10 anos, a incidência da infecção pelo HIV caiu 33% e, hoje, quase 10 milhões de soropositivos vivem com o auxílio de tratamento antirretroviral no mundo ; de um universo de 35,3 milhões de infectados. Os avanços são inegáveis para uma epidemia que também registra números cada vez menores de mortalidade. Se em 2005 foram 2,3 milhões de óbitos, a taxa chegou a 1,6 milhão em 2012, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). As taxas mais promissoras inspiram declarações de que o fim da Aids estaria cada vez mais próximo. Mas esses pronunciamentos motivam a ação ou podem minimizar o real perigo da doença? Um especial da revista Science publicado hoje quer responder a essas questões ao mesmo tempo em que a OMS alerta: pessoas com maior risco de contrair a Aids não estão recebendo os cuidados de que necessitam.

Um boletim divulgado hoje pela instituição mostra que o não fornecimento de serviços adequados a cinco populações-chave ameaça o progresso global na resposta à doença. Esse grupo é formado por homens que fazem sexo com homens, presos, usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo e transgêneros. A definição da OMS tem como base um conjunto de comportamentos de alto risco que os colocam em maior exposição ao vírus. Segundo a instituição, há ainda outro agravante para a situação: essas pessoas também são menos propensas a ter acesso à prevenção, aos testes e ao tratamento. ;Em muitos países, elas são deixadas de fora dos planos nacionais contra o HIV, e as leis e as políticas discriminatórias são as principais barreiras a esse acesso;, descreve a OMS.

A entidade divulgou diretrizes que devem delinear passos para que os países alcancem uma redução no número de novas infecções e aumentem o acesso ao teste, às terapias e aos cuidados contra o HIV. As informações antecipam dados que deverão ser discutidos durante a Conferência Internacional de Aids, em Melbourne, na Austrália, de 20 a 25 deste mês. As recomendações incluem uma ampla gama de abordagens clínicas que, para serem eficazes, demandam a remoção de barreiras jurídicas e sociais. Um dos pontos específicos trata de homens que fazem sexo com homens.



A indicação é de que as nações passem a utilizar como prevenção o método adicional de profilaxia pré-exposição (PrEP) com o preservativo. Isso porque as taxas de infecção entre eles continuam a ser elevadas em quase todos os países. Acredita-se que, globalmente, uma redução de 20% a 25% na incidência de HIV nesse público poderia ser alcançada por meio dessa estratégia, evitando até 1 milhão de novas infecções em mais de 10 anos. O risco dessa população de contrair o vírus é 19 vezes maior que as pessoas em geral. O índice é 14 vezes maior que o de profissionais do sexo e menor que o calculado para transgêneros e usuários de drogas injetáveis, ambos com risco 50 vezes maior.

Segundo o diretor do Departamento de HIV da OMS, Gottfried Hirnschall, é preciso considerar que esses grupos não vivem em isolamento. ;Profissionais do sexo e seus clientes têm maridos, esposas e parceiros, sendo que alguns usam drogas injetáveis, e muitos têm filhos;, lembra. Hirnschall acredita que ainda existem lacunas significativas nos planos nacionais. Apenas 70% dos países pesquisados explicitamente abordam as necessidades de homens que fazem sexo com homens e profissionais do sexo, enquanto que o valor para usuários de drogas injetáveis foi de 40%. Transgêneros são raramente mencionados nos planos de HIV e, mesmo onde as políticas existem no papel, o acesso é dificultado.

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