Paloma Oliveto
postado em 18/07/2014 07:10
Poucas coisas mudaram tanto o mundo quanto uma planta selvagem. Ao semear as melhores versões de uma espécie daninha 10 mil anos atrás, o homem viu crescer aquele que se transformaria no motor da civilização. O trigo é apontado como principal agente da revolução neolítica: para cultivá-lo, o Homo sapiens abandonou o estilo nômade e se fixou no campo. Alguns historiadores defendem, inclusive, que não foi o ser humano que domesticou esse grão: mais justo seria dizer que a sociedade foi domesticada por ele.
Apesar da importância dessa gramínea, que provocou uma explosão demográfica e até hoje é a principal fonte de calorias da alimentação mundial, com uma produção de 711 milhões de toneladas no ano passado, o genoma do trigo não foi decifrado. Agora, porém, uma equipe internacional de pesquisadores anunciou na revista Science o primeiro rascunho genético do cereal. O trabalho de quase 10 anos resultou na identificação de 120 mil genes ; mais de 95% do total ;, muitos dos quais com importância direta para a agricultura, como a qualidade do grão, a resistência a pestes e a tolerância ao estresse ambiental. O sequenciamento cobre 61% do genoma de uma variação do trigo branco, além do detalhamento mais aprofundado do maior cromossomo do grão, o 3B.
Kellye Eversole, diretor executivo do Consórcio Internacional do Sequenciamento do Genoma do Trigo (IWGSC, sigla em inglês), explica que, diferentemente de outras importantes fontes cereais, como o arroz e o milho, o trigo tem um genoma extremamente complexo. Ele contém nada menos que três genomas muito semelhantes ; A, B e D ;, sendo que cada um deles é formado por sete cromossomos. Para decifrá-lo, a tradicional técnica, que consiste em quebrar o DNA em pequenos fragmentos para serem lidos um a um e, depois, agregados em pequenas sequências por um computador, seria impossível. ;O trigo branco, do qual se faz o pão comum, é um híbrido muito complexo ; no total, seus três genomas são quase cinco vezes maiores que o genoma humano. Sequenciá-lo da maneira tradicional seria uma tarefa virtualmente impossível;, define.
A equipe de cientistas de diferentes instituições, então, usou outra abordagem. Primeiro, isolou os cromossomos e, depois, fez o sequenciamento, em separado, de cada um. No fim, os dados foram combinados por computador. Enquanto isso, parte dos pesquisadores realizava outra importante tarefa: o detalhamento completo do maior cromossomo do trigo. ;Nos próximos três anos, esperamos conseguir fazer o mesmo nos 20 cromossomos restantes. Mas apenas o 3B já nos fornece importantes informações, que serão úteis para estudarmos, por exemplo, a resistência do trigo face aos estresses ambientais, como a seca;, exemplificou, em nota, Catherine Feuillet, geneticista responsável pelo detalhamento do cromossomo 3B.
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