A receita para um time perfeito não depende apenas da popularidade dos jogadores escalados. O sucesso da mistura decorre mais da química entre eles do que do quanto agradam aos espectadores. No campo, a fórmula é sintetizada pela sabedoria popular de que, às vezes, menos vale mais: a seleção ideal não precisa ter apenas craques estelares. São imprescindíveis também atletas com habilidades pouco inferiores. O princípio proposto por Roderick Swaab, pesquisador da escola de negócios Insead, na França, justifica o resultado da edição deste ano da Copa do Mundo. Ao contrário de todas as outras, a equipe alemã liderada por Joachim L;w não tinha reservas: todos os 23 jogadores eram titulares.
"A maioria das pessoas acredita que a relação entre o talento e o desempenho da equipe é linear. Quanto mais a equipe está repleta de estrelas, melhor ela jogará. No entanto, nossa pesquisa documenta um efeito contrário quando há craques em excesso", diz o principal autor do estudo, divulgado na revista especializada Psychological Science. Foram realizados cinco testes, que envolveram pesquisas documentais e questionários com torcedores sobre a relação entre o desempenho de alguns jogadores e o da equipe.
Embora dois experimentos tenham indicado que a opinião popular aposta no talento como sinônimo de sucesso, os resultados mostraram que muita habilidade de um ou mais integrante nem sempre beneficia o time. ;Além desse ponto, as vantagens da adição de mais talentos diminuem e, eventualmente, prejudicam o desempenho da equipe porque os jogadores não conseguem coordenar as suas ações;, explica o especialista.
Mariana Vannuchi Tomazini, especialista em Psicologia do Esporte e do Exercício Físico pelo Instituto Sedes Sapientiae
"O excesso de talentos não necessariamente é determinante para a vitória. As pessoas têm essa visão e os resultados do artigo tentam desconstruí-la. Em esportes nos quais a interdependência entre os atletas é grande, como no Basquete e no Futebol, não basta apenas o talento. Há uma diferença entre grupo e agrupamento. No agrupamento, as pessoas não têm um objetivo comum, enquanto no grupo sim. Um time precisa agir como um grupo. Pois o talento individual é potencializado quando os atletas trabalham com o mesmo objetivo. Muitas vezes, por acharem que o talento basta, alguns esportistas acabam negligenciando aspectos importantes, como a cooperação. Vários talentos independentes, sem coesão, na maioria das vezes têm pouca eficácia. A questão física, técnica e tática é essencial para um time. Mas também é importante que os jogadores tenham outros tipos de talento. Um atleta considerado menos talentoso e que possui pensamento mais estratégico ou maior capacidade de liderança, por exemplo, pode ser mais eficiente e mais útil para um time do que o de um jogador altamente habilidoso. O importante é que em um time haja jogadores com talentos diversos e complementares, atuando de forma harmônica, sistêmica e em prol de um objetivo comum. Essa Copa foi importante para o Brasil perceber que é preciso investir em trabalho de base, e que ele deve ser interdisciplinar, incluindo especialistas que trabalhem os aspectos físicos, táticos, técnicos e psicológicos dos atletas."
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