Bruna Sensêve
postado em 23/07/2014 07:00
Silenciosa, desproporcional e fatal. Os três adjetivos definem a forma como a epidemia do HIV se desenha entre os trabalhadores do sexo. Mulheres, homens e transgêneros que se prostituem estão sujeitos ; em países de alta, média e baixa rendas ; a políticas e condições sociais discriminatórias e repressivas. A marginalização desse grupo é combustível para violações graves dos direitos humanos, impedindo que essas pessoas acessem os serviços de saúde necessários para a prevenção e o tratamento da infecção pelo vírus da Aids. Essa é a conclusão exposta por um grande time de pesquisadores internacionais no terceiro dia da Conferência Internacional Aids 2014, que acontece esta semana na Austrália. A principal solução apontada por eles é simples e polêmica: a descriminalização do profissional do sexo em todo o mundo.
Os resultados apresentados pelo primeiro artigo de uma série de oito trabalhos publicados ontem na revista científica Lancet trazem conclusões de como alguns determinantes estruturais poderiam modificar o cenário de exposição ao vírus nesse grupo. A eliminação da violência sexual que sugere a ausência de preservativo, por exemplo, seria capaz de evitar 17% de novas infecções no Quênia e 20% no Canadá entre os profissionais do sexo e os clientes dele. No país africano, a ampliação do acesso à terapia antirretroviral nos moldes da Organização Mundial da Saúde ; o atendimento de pacientes com uma contagem de células CD4 inferior a 500 células por ml ; evitaria 34% de infecções. Estima-se que até uma cobertura menos abrangente conseguiria evitar pelo menos 20% de novas infecções na próxima década. A descriminalização do trabalho sexual, porém, teria o maior efeito sobre o curso da epidemia do HIV em todas as configurações, evitando de 33% a 46% de novos casos.
A editora executiva da publicação responsável pela série sobre HIV e trabalhadores do sexo, Pamela Das, considera que os olhos estão voltados para essa população porque, ainda que com os riscos aumentados da Aids e de outras DST, esses profissionais enfrentam barreiras substanciais no acesso aos serviços de prevenção, tratamento e cuidados. O motivo disso seria o estigma, a discriminação e a criminalização nas sociedades em que vivem. ;Essas injustiças sociais, legais e econômicas contribuem para o alto risco de contrair o HIV. Muitas vezes, na clandestinidade, por medo, os trabalhadores do sexo encontram ou enfrentam o risco direto de violência e abuso diário. Eles permanecem não atendidos pela resposta global de HIV;, explica.
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