Ciência e Saúde

Idosos costumam sofrer menos para se assumirem gays, dizem estudos

A postura, porém, esbarra no senso comum de que os desejos desaparecem na terceira idade

Bruna Sensêve
postado em 29/07/2014 07:30
A postura, porém, esbarra no senso comum de que os desejos desaparecem na terceira idade

Ele se casou três vezes e teve três filhos. Aos 59 anos, resolveu dizer ao mundo que é bissexual e que prefere usar adereços e trajes femininos. O cartunista Laerte Coutinho, de Piratas do Tietê, assumiu uma nova faceta da sexualidade no começo do processo de envelhecimento. Afirma que a orientação sexual e a identidade de gênero são fatos independentes, embora relacionados. ;Sempre soube do meu desejo por homens ; foi como comecei minha vida sexual. Mas, poucos anos depois, fugi dele, vivendo décadas na tentativa de me convencer de que era heterossexual;, conta. Ele acredita que o fato de essa decisão ter acontecido nesse estágio da vida facilitou bastante algumas situações. ;Por ser uma pessoa com vida profissional sólida, filhos crescidos, relações sociais cultivadas, não tive as dificuldades enormes que a maior parte da população trans enfrenta desde a infância e a adolescência.;

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A situação vivida por Laerte é mais comum do que se imagina. Para a coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo, Carmita Abdo, muitos homossexuais passam a vida evitando ou mesmo censurando a atração pelo mesmo sexo e optando por um relacionamento heterossexual. ;À medida que começa a haver uma abertura, a homossexualidade começa a ser tratada de uma forma menos discriminatória.; O envelhecimento seria ainda mais favorável para esse ;repensar; por se tratar de um momento em que as pessoas, independentemente da sexualidade, também têm a oportunidade de rever a vida.

;Eu não sinto que envelhecer tem a ver com homossexualidade, envelhecer é uma condição de vida independentemente de com quem você transa. Eu não sigo o que é condição social, pelo contrário, sou completamente contestadora de todas essas imposições e regras medíocres impostas. Posso amanhã envelhecer com um velhinho (homem);, diz Valentina*, 57 anos. O relato foi colhido por Tânia Gonçalves em um trabalho de mestrado orientado pela professora da pós-graduação em gerontologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) Elisabeth Mercadante. A aluna entrevistou 10 mulheres homossexuais em meia-idade, entre 40 e 59 anos, que contaram seus medos e suas angústias acerca da proximidade da velhice.

* Nome fictício

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