postado em 23/09/2014 09:13
Apesar de Alice Brites usar um tablet na escola, a menina de 7 anos prefere obras impressas. ;Gosto de passear nas livrarias e ver coisas interessantes;, conta. O irmão mais velho dela, João Diogo Brites, que foi educado em livros de papel, não esconde a preferência pelo meio virtual. ;É mais barato, prático e fácil de ler;, justifica o jovem de 20 anos. A uniformidade definitivamente não se aplica quando o assunto é a leitura. Além das preferências com relação aos estilos, o público se divide entre as opções tradicionais e eletrônicas. Especialistas avaliam a convivência entre os novos formatos. Conforto e saudosismo estão entre as razões de tamanha diversidade.
Lúcia Santaella, livre-docente em liguística, acredita que uma das razões da coexistência entre os formatos esteja nas experiências distintas que eles proporcionam. ;O cheiro do papel, o manuseio e o folhear do livro como um objeto físico diferem da manipulação de um leitor eletrônico;, compara. Ela explica que a interatividade da internet é fundamental nesse contexto. ;É certo que, embora aparentemente linear, o livro impresso também permite retomadas, idas e vindas, leituras repetidas, mas a manipulação do papel e o volume à esquerda e à direita que vai se formando no desenrolar da leitura são bastante distintos da navegação interativa;, descreve.
Se crianças e jovens ficam divididos entre os benefícios de cada formato, o que dirá os mais velhos. A psicóloga Natalie Mas reforça que as ponderações entre vantagens e desvantagens ganham outra preocupação quando se levam em conta os ensinamentos que serão repassados aos filhos. ;Ainda que eu não acredite na tendência do desaparecimento total do impresso, acho, sim, que ele está sendo em uma grande proporção substituído pelo conteúdo virtual. E isso, com certeza, deve causar consequências na forma com que a criança se relaciona com o hábito da leitura.;
Mesmo passando bastante tempo folheando páginas em casa, Alice Brites vive a leitura virtual na escola. Há, inclusive, um concurso que contabiliza as obras lidas pelos alunos. ;Tem todos lá, mas só em versão digital;, lamenta. Marcelise Azevêdo, mãe da menina, incentiva em sentido contrário. Ela estimula a filha a procurar os impressos para perceber que ;o mundo vai além do virtual;. ;Não acho que pelos eletrônicos seja ruim, mas as crianças precisam ver que existem outros meios. Se a bateria acaba e a energia também, elas não vão saber o que fazer;, avalia.
Natalie Mas aprova a atitude de Marcelise e percebe as consequências dela em seu consultório. ;Eu tenho uma estante de livros. Uma criança cujos pais não apresentaram a mídia impressa fica sentada brincando no celular. A que foi apresentada à leitura tradicional olha e fala: ;Que legal! Quantos livros!’;, compara.
A observação pode sinalizar um entendimento melhor dos pequenos sobre as realidades que os cercam. ;Existe a falsa impressão de que palavras e atos podem ser apagados com uma borracha. Como se fosse um blog em que a pessoa escreve, edita e ninguém percebe. É importante que as crianças saibam que não dá para voltar atrás sempre. Por isso que na escola a transição de escrever com lápis para escrever com a caneta é um evento tão grande.;
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