Paloma Oliveto
postado em 24/09/2014 10:02
A ideia pode parecer estranha: usar o Aedes aegypti ; mosquito transmissor da dengue ; justamente para combater a doença tropical. Mas essa é a grande aposta de um grupo internacional de pesquisadores, incluindo o brasileiro Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz. A estratégia consiste em inserir uma bactério no Aedes para que, uma vez infectado, ele se torne imune ao vírus. Soltas na natureza, ao acasalar com os machos, as fêmeas tratadas em laboratório vão produzir descendência incapaz de transmitir a dengue, mesmo se picar um humano contaminado.Pela primeira vez, a eficácia desses mosquitos será testada no Brasil. Hoje, a equipe da Fiocruz lançará 10 mil Aedes aegypti na comunidade de Tubiacanga, Rio de Janeiro. Esses insetos carregam a bactéria Wolbachia, presente em 60% dos insetos existentes, de borboletas a pernilongos, e incapaz de infectar vertebrados. É o micro-organismo que impede a transmissão do vírus, uma descoberta feita em 2009, por um grupo de cientistas do qual Luciano Moreira faz parte. Os pesquisadores, pertencentes à iniciativa internacional Eliminar a Dengue, constataram que os insetos contaminados pela bactéria bloqueiam o vírus e transmitem essa característica à descendência.
"Uma das grandes vantagens é que o método é autossustentável", observa Moreira. Depois de liberados na atmosfera, os mosquitos passam a produzir, naturalmente, insetos imunes. Quando uma fêmea portadora da Wolbachia se acasala com um macho que também carrega a bactéria, toda a prole nasce com o micro-organismo. Isso também acontece quando o macho não é portador da Wolbachia, mas a fêmea, sim. Dessa forma, a expectativa dos cientistas é que, a partir de agora, surjam, naturalmente, Aedes aegypti incapazes de transmitir a dengue. Com o tempo, eles seriam a maioria na população dos mosquitos.
Em 2013, houve 1.476.917 notificações de dengue no Brasil, com 573 óbitos. Nos últimos 50 anos, a incidência mundial aumentou 30 vezes.