Ciência e Saúde

Fungo aquático é ponto de partida para o desenvolvimento de fotossensores

Pesquisadores da USP descobrem fungo aquático com moléculas parecidas com as que atuam na visão humana

Celina Aquino
postado em 29/09/2014 06:00
Pesquisadores da USP descobrem fungo aquático com moléculas parecidas com as que atuam na visão humana

Belo Horizonte - À primeira vista, fungos e seres humanos não têm nada em comum. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram, no entanto, uma semelhança surpreendente. O fungo aquático Blastocladiella emersonii contém moléculas parecidas com as que atuam na visão humana, que reagem à luz, o que indica uma correspondência entre a habilidade primitiva do organismo unicelular e o ultrassofisticado mecanismo dos humanos. A constatação, inédita, pode ser um ponto de partida para o desenvolvimento de fotossensores.

Classificado como primitivo, por estar localizado na base da árvore filogenética dos fungos, o Blastocladiella emersonii teve seu genoma sequenciado pelos pesquisadores brasileiros. Constatou-se no organismo unicelular a presença de uma proteína de fusão entre guanilato ciclase e rodopsina, substância fotossensora envolvida na visão de vertebrados, inclusive humanos. A combinação nunca havia sido detectada em um ser vivo. ;A maioria dos fungos não tem a enzima guanilato ciclase, possivelmente a perderam durante a evolução. Acredita-se que a proteína esteja relacionada à motilidade celular;, informa a professora Suely Lopes Gomes, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP.



Enquanto os fungos mais estudados, como levedura e Neurospora crassa, não se movimentam, o Blastocladiella emersonii passa por uma fase móvel, denominada zoósporo. A célula faz com que o organismo aquático se disperse na natureza, nadando por muitas horas em busca de condições adequadas de crescimento. Quando encontra um ambiente apropriado, com nutrientes, ele se fixa e começa a crescer. Suely compara o zoósporo a um espermatozoide, que tem flagelo e também nada. Por outro lado, os fungos com células móveis que vivem na pele dos anfíbios contêm guanilato ciclase, mas não associada à rodopsina, provavelmente porque não precisam da propriedade de reconhecer a luz.

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