Rodrigo Craveiro
postado em 07/10/2014 08:34
;Aqui é John O;Keefe, da Universidade College London.; O telefone tocou às 14h56 de ontem (19h46 em Brasília), quase oito horas e meia depois do anúncio do prêmio. Do outro lado da linha, um dos vencedores do Nobel de Medicina exibia o entusiasmo e a alegria típicos de quem experimentava o triunfo máximo. Mas também havia uma boa dose de simplicidade. Em entrevista exclusiva ao Correio, O;Keefe considerou ;uma tremenda honra; ter sido um dos laureados, mas lembrou que o prêmio pertence a toda a comunidade científica. Também disse esperar que a vida volte ao curso normal em breve e prometeu não abandonar o laboratório. ;Vou seguir fazendo ciência. Ainda tenho várias dúvidas;, declarou.
Qual foi sua reação ao tomar conhecimento de que tinha sido um dos escolhidos pelo comitê?
O Comitê Nobel me telefonou nesta manhã (ontem), meia hora antes do anúncio. Todo cientista sonha com isso (risos). Minha reação foi de surpresa, mas também fiquei maravilhosamente feliz. Eu não esperava ganhar o prêmio neste ano. Acho que todo cientista, para ser honesto, fica ciente (dessa possibilidade) (risos). Mas eu estou realmente entusiasmado por ter ganhado. Você sabe; É uma tremenda honra e estou muito encantado e agradecido por meus colegas. O prêmio é dado a um indivíduo pelo comitê, mas, de fato, é de toda uma comunidade que trabalha nessa parte do cérebro. E estou muito satisfeito por todos eles.
Como o senhor conseguiu detectar o sistema de mapeamento espacial no cérebro?
Quando começamos, muitos anos atrás, soubemos que o hipocampo estava envolvido na memória. Alguns pacientes com danos naquela parte do cérebro sofrem mudanças na memória. Nós conhecíamos o hipocampo, mas não exatamente que avaliação era possível fazer ali. Eu comecei a observar células em ratos e percebi que elas ficavam ativas quando eles estavam em determinado lugar ou quando acessavam a porta. E eu vi que essas células particulares eram um exemplo claro de que elas não se ativavam porque o animal fez alguma coisa ou porque estava interessado em acessar algum local, mas porque o rato tinha se localizado naquele ambiente.
Ao concluir que o hipocampo produz vários mapas espaciais, o senhor percebeu o potencial da descoberta em explicar o sistema de posicionamento interno?
Sim, nós percebemos que estávamos diante de algo importante. Primeiro, porque você pode usar isso para explicar como o cérebro funciona. Algumas pessoas eram céticas em relação a isso.
Como sua pesquisa pode ajudar mais a entender o cérebro e quais os seus efeitos terapêuticos?
Nós tivemos a oportunidade de começar a estudar em pacientes com danos cerebrais. Pedimos a essas pessoas que se movessem pelo ambiente e estudamos o cérebro delas e o tamanho das lesões. Vimos que o hipocampo pode nos revelar mais coisas. Em relação a terapias, criamos modelos de cobaias (ratos) e vimos que as células espaciais se tornam mais desgastadas, um sinal precoce de doenças. Tivemos algum progresso, mas prefiro ser cauteloso.
O senhor atingiu o topo da ciência. Quais seus projetos a partir de agora?
Vou seguir fazendo ciência. Ainda tenho várias dúvidas. Tenho pessoas muito talentosas no meu grupo que vêm de várias partes do mundo, inclusive do Brasil.
Espera que sua vida mude muito?
Eu realmente gosto da minha vida. Está maravilhosa agora. Eu espero que haja mais atenção da mídia por meu trabalho. Mas eu espero poder voltar à vida normal em alguns dias. (RC)