Rodrigo Craveiro
postado em 09/10/2014 09:18
;Recife é muito bonito, um lugar incrível. Eu tenho que ir à praia;, brincou William E. Moerner. O cientista da Universidade de Stanford (EUA) provavelmente jamais vai esquecer o Brasil. O telefone tocou no Recife Praia Hotel às 7h. Do outro lado da linha, sua mulher lhe disse que ele era um dos três pesquisadores premiados com o Nobel de Química. Às 10h44, ele falou com o Correio, por telefone. Moerner contou que foi convidado a ser um dos palestrantes do 3; Workshop Internacional sobre Fundamentos da Interação Luz-Matéria, realizado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pela Sociedade Brasileira de Ciência (SBC). Simpático, confessou estar ;completamente emocionado; e explicou como suas pesquisas revolucionaram a ciência.
De que modo o senhor recebeu a notícia?
Estou completamente emocionado. Minha mulher me telefonou porque o Comitê Nobel não conseguiu me localizar. Eu fiquei agitado. O coração começou a bater rápido. Eu dizia: ;Não pode ser verdade;.
Qual o motivo de sua visita ao Brasil?
Estou participando de um workshop sobre fundamentos da interação entre a luz e a matéria. Leonardo Menezes, professor visitante do Departamento de Química da UFPE, coordenou o encontro.
Como seu estudo mudou os paradigmas da ciência?
O que é importante é que trabalhamos com uma única molécula minúscula dentro da célula. Por observarmos moléculas individuais, podemos visualizar detalhes sobre como a célula funciona. Essas moléculas são usadas como fontes emissoras de luz, como se fossem um pequeno flash. E isso permite medirmos o formato e a estrutura dentro das células. O problema era o limite fundamental de luz. Você não pode fazer isso usando uma câmera melhor. Mas utilizando moléculas individuais para iluminar as estruturas, uma por uma, você é capaz de medir esse limite fundamental. E todas as estruturas terão foco, por causa do brilho.
Quais as aplicações da pesquisa na medicina?
Na medicina, um dos grandes problemas atuais é a compreensão dos processos no interior das células; como elas funcionam no contexto de uma doença. Precisamos entender esses processos. Ainda não conseguimos, esse é um enigma real. Por exemplo, há várias doenças que estão envolvidas com proteínas. Com o estudo, poderemos entender a doença e combatê-la.
No começo, imaginou que fosse algo revolucionário?
Começamos a estudar o processo em 1987, mas a façanha original sobre a microscopia monomolecular somente ocorreu em 1989. Eu sabia que o trabalho com uma única molécula seria importante, pois expandiria os limites para observar estruturas menores.
Será possível entender doenças complexas, como Parkinson e Alzheimer?
Agora, nós podemos estudar modelos em células motoras, do lado de fora do organismo, para compreender como essa doenças funcionam.
O que diria aos jovens que pensam mudar o mundo por meio da ciência?
A coisa mais importante é pensar em como o homem funciona, como as células funcionam, como o complexo sistema das moléculas opera. O que pode ser aprendido que não era conhecido antes?