Ciência e Saúde

"Foram partes iguais de felicidade e de medo", diz ganhador de prêmio Nobel

Em entrevista ao Correio, Eric Betzig, cientista do Howard Hughes Medical Institute, deu conselhos a quem um dia sonha em juntar-se a ele no topo da ciência

Rodrigo Craveiro
postado em 09/10/2014 09:32
;Não façam o que os outros dizem, trilhem seu próprio caminho, não temam correr riscos e trabalhem duro.; Esses são os conselhos de Eric Betzig, cientista do Howard Hughes Medical Institute, a quem um dia sonha em juntar-se a ele no topo da ciência. Em entrevista ao Correio, por telefone, de Munique, onde participava de um workshop, Betzig foi cauteloso ao citar possíveis aplicações de seus estudos na área médica, mas admitiu que as pesquisas caminham nesse rumo. ;O único modo com o qual podemos reverter a engenharia das máquinas celulares é por meio da observação dessas células operando;, explicou. De acordo com ele, o desenvolvimento da microscopia monomolecular foi um processo extremamente metódico e empírico.



[SAIBAMAIS]Como o senhor soube que foi um dos laureados?
Eu estava aqui, em Munique, para uma conferência. Eu aguardava o momento de fazer minha explanação quando recebi a ligação. Foi surpreendente (risos). Foram partes iguais de felicidade e de medo. Medo de como a vida pode mudar. Mas é uma grande honra.

Como suas pesquisas transformaram a ciência?

As técnicas super-revolucionárias são realmente legais. Elas tentam unir os campos da biologia molecular e da biologia celular. São basicamente uma maneira de manter unidas a compreensão de como, nos seres vivos, as moléculas se unem para formar o ser em si.

A microscopia monomolecular pode ser aplicada à área médica?

Neste momento, temos pesquisas básicas que começam a rascunhar questões simples e básicas sobre motores moleculares (proteínas que convertem a energia química em trabalho mecânico), sobre células de transporte e sobre a divisão da membrana celular. Nós ainda temos uma série de diagnósticos a fazer sobre como a célula funciona antes de abordarmos doenças ou coisas desse tipo.

Qual é o princípio da microscopia fluorescente de super-resolução?
Em outros microscópios eletrônicos, você pode enxergar em uma escala excelente, mas não através de amostras vivas. Eles não conseguem pegar especificamente uma proteína e destacá-la. Nos microscópios óticos, vemos as proteínas, mas a resolução é bastante limitada. Essa técnica nos aproxima muito da resolução dos microscópios eletrônicos. O único modo com o qual podemos reverter a engenharia das máquinas celulares é pela observação dessas células operando. Ter a dinâmica desses elementos é realmente importante.



O senhor pensava em chegar tão longe? Teve que superar dificuldades?
Quando você começa, você nunca imagina isso (risos). Foi um processo muito metódico. Você tenta diferentes técnicas, descobre o que funciona, detecta várias coisas que não funcionam. Alguns experimentos e ideias vieram dessa pesquisa e se tornaram base de estudos da genética.

Agora que recebeu o Nobel, o senhor tem muitos projetos?
Meus planos são tentar me certificar de que minha vida vai mudar o mínimo possível. Eu gosto da minha vida, e isso é suficiente. Eu tenho uma perfeita situação de trabalho. Fico o dia todo no laboratório, tenho várias responsabilidades e espero voltar a fazer isso.

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