Roberta Machado
postado em 25/10/2014 07:00
Um dano neurológico pode deixar fortes marcas na vida de um paciente, mas muitas vezes a própria vítima desse processo não é capaz de compreender as consequências do trauma que sofreu. Esse problema, chamado pelos médicos de anosognosia, pode ser tão simples quanto uma pessoa que tem dificuldades em notar que continua esquecendo coisas importantes; ou tão grave quanto quem simplesmente não percebe que um de seus braços está paralisado. Também é um dos principais campos de pesquisa do neuropsicólogo George Prigatano, que veio a Brasília estudar novas formas de resolver essa complicada questão.
O médico e pesquisador foi presidente por quase três décadas do Instituto Neurológico Barrow, nos Estados Unidos, onde hoje ocupa o cargo emérito de comando. A instituição é modelo internacional nas iniciativas multidisciplinares de tratamento que procuram unir a educação de profissionais à pesquisa para ajudar pessoas que sofrem danos cerebrais. Para Prigatano, que ainda atende pacientes no instituto, o envolvimento emocional do médico é uma ferramenta fundamental para a reabilitação bem-sucedida. ;Quanto mais emocionalmente relevante, quanto mais próximo o laço entre o professor e o aluno, melhor o aprendizado;, atesta o especialista.
Atualmente, Prigatano, que já foi presidente também da Academia Norte-Americana de Neuropsicologia, trabalha na criação de um centro de atendimento e reabilitação para pacientes de todas as idades. O projeto o levou a passar a semana na cidade, colaborando com médicos e pacientes do Hospital Sarah Kubitschek. ;Quando eu visitei esse lugar, fiquei maravilhado com os recursos que têm aqui, e não somente com as lindas instalações, mas também com o pensamento que há por trás delas;, ressaltou o neuropsicólogo, que deixou ontem o Brasil.
Aqui, o especialista realizou testes que vão ajudá-lo a desenvolver um novo diagnóstico para a anosognosia, além de ter observado de perto o trabalho com crianças e adultos na instituição acompanhado de Lúcia Willadino Braga, diretora da Rede Sarah de Reabilitação. A visita, garante ele, pode ser a primeira de muitas. George Prigatano afirma que o trabalho de colaboração com a Rede Sarah deve continuar, permitindo não só o desenvolvimento das suas pesquisas, mas também o treinamento de profissionais brasileiros e a adaptação de testes de comportamento para serem aplicados aqui no país em breve.
Depois de um trauma e dos procedimentos cirúrgicos, há uma série de técnicas compensatórias pelas quais o paciente deve ser submetido. Quais são as dificuldades desse processo?
Em casos de danos severos ao cérebro, ocorre um conjunto complicado de mudanças cognitivas e de personalidade. Algumas vezes, no exame de um paciente, é bastante óbvio o que está errado, às vezes não. Então, o primeiro objetivo, antes mesmo do planejamento de qualquer forma de reabilitação, é ter um entendimento razoável de quais são os problemas cognitivos, de personalidade e de comportamento de quem está sendo atendido. E, às vezes, leva algum tempo até sabermos isso. Dependendo da natureza da patologia, você precisa fazer um bom exame neuropsicológico para realmente entender qual a combinação de problemas. E há mais uma coisa: avaliar o que estamos tentando fazer com a reabilitação. Isso precisa ser especificado muito claramente. Enquanto há objetivos gerais, ser bastante específico com o paciente e com a família dele exatamente sobre quais são os objetivos é algo muito, muito importante.
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