Ciência e Saúde

Estudo: "Fantasmas" podem ser confusão do cérebro com movimentos do corpo

Pesquisadores suíços mostram relação entre falhas no cérebro e a sensação de ser acompanhado por uma presença invisível. Com ajuda de um sistema robótico, os cientistas conseguiram provocar a experiência em voluntários

Isabela de Oliveira
postado em 07/11/2014 06:03
Mesmo o mais cético dos indivíduos pode admitir que, pelo menos uma vez, teve a sensação de ser observado por um ente oculto. Enquanto os descrentes tendem a ignorar a experiência, os mais crédulos, seja por razões religiosas ou por acreditarem no sobrenatural, especulam sobre a possibilidade de a experiência ter sido provocada por um ser real, apesar de invisível. Pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, escolheram uma terceira forma de lidar com o fenômeno: investigar sua origem a partir de métodos científicos. A conclusão a que chegaram? Apesar de ser uma ocorrência de fato cercada de mistérios, ela não tem nada de mística. Segundo eles, os ;fantasmas; aparecem quando o cérebro se confunde ao interpretar os movimentos que o próprio corpo faz.



A leibhafte Bewusstheit, ou sensação de presença, foi primeiro descrita pelo psiquiatra alemão Karl Jaspers, no início do século 20. Ele percebeu que essa experiência era comum nos pacientes com doenças neurológicas internados no Hospital Universitário de Heidelberg, onde trabalhou por sete anos. Os relatos colhidos pelo médico mostravam que os doentes tinham a percepção persistente de serem observados por uma entidade invisível. O novo estudo, liderado por Olaf Blanke e publicado ontem na revista Current Biology, buscou ir além da simples descrição e buscar uma região cerebral que pudesse ser relacionada com essa experiência.

Com o colega Giulio Rognini, Blanke examinou o cérebro de 12 pacientes com doenças neurológicas, sendo a epilepsia a mais comum. Todos relatavam viver a sensação de presença, e análises de ressonância magnética indicaram que eles tinham lesões em três regiões: o córtex insular, o perietal frontal e o temporoparietal. Essas áreas estão envolvidas com a autoconsciência, a movimentação e o senso de posicionamento no espaço. Juntas, formam uma rede multifatorial encarregada da percepção que a pessoa tem do próprio corpo.

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