Ciência e Saúde

Nova espécie de peixe é descoberta já ameaçada de extinção no Pampa gaúcho

Área não tinha sido ainda estudada por pesquisadores para levantamento de fauna, em especial de espécies de peixes

postado em 19/11/2014 16:24
Pesquisadores brasileiros catalogaram nova espécie de peixe da família Rivulidae, na bacia do Rio Camaquã, no município de Encruzilhada do Sul (RS), que já surge ;criticamente ameaçada de extinção;, disse nesta quarta-feira (19/11) à Agência Brasil o coordenador do Instituto Pró-Pampa (IPPampa), Matheus Volcan, responsável pela pesquisa.

A nova espécie (Austrolebias bagual) faz parte do grupo de peixes com distribuição bastante restrita. ;Eles ocorrem em ilhas de água, em pequenas poças d;água ou charcos banhados, como a gente chama aqui no Sul, isolados por terra. Esses ambientes são, em geral, muito pequenos e isolados. O isolamento faz com que ocorra um grau muito alto de especiação desse peixe;.

Matheus Volcan informou que em cada bacia hidrográfica se encontra uma espécie diferente. ;São ambientes aquáticos cercados por terra. Essa espécie não ocorre em ambientes permanentes, como rios e riachos;. Por isso, a capacidade de sobrevivência é baixa.

A área não tinha sido ainda estudada por pesquisadores para levantamento de fauna, em especial de espécies de peixes. ;A gente teve a sorte de achar essa espécie na bacia do médio Rio Camaquã, que é pouco estudada, embora seja muito degradada;, relatou Volcan.

O projeto Peixes Anuais do Pampa foi iniciado em 2011 pelo IPPampa, para busca de espécies e áreas novas, patrocinado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A descoberta foi descrita oficialmente em outubro passado na Revista Internacional de Ictiologia AQUA, dedicada a estudos e pesquisas sobre peixes. Segundo o pesquisador, outras quatro espécies estão em processo de descrição.

Volcan explicou que a nova espécie tem um ciclo de vida relacionado com a seca do ambiente. Os peixes vivem em poças de profundidade máxima de 60 centímetros, em áreas campestres, o que os deixa isolados. Quando o casal atinge a maturidade sexual, os peixes depositam os ovos no lodo. ;E quando o charco seca, todos os adultos morrem. Os ovos ficam vivos no substrato para o seu desenvolvimento embrionário. Se o ambiente não secar, este é o maior problema para esta espécie, porque pode afetar o desenvolvimento embrionário;, explicou.

No ano seguinte, quando as novas chuvas começam e alagam o local, os ovos se abrem e surge novo ciclo de vida. Não há sobreposição de geração, acrescentou Volcan. Daí a espécie ser conhecida como peixes anuais ou sazonais.

[SAIBAMAIS]Matheus Volcan salientou a importância da descoberta porque, embora sejam peixes pequenos, eles têm um perfil ecológico. Ou seja, eles controlam a biodiversidade dessas áreas. ;Eles comem todas as larvas de mosquitos, os micro crustáceos dentro dessas poças. Eles têm papel importante para o equilíbrio ecológico das áreas úmidas, que são ambientes associados a rios e lagoas. Este tipo de ambiente é o mais ameaçado do planeta;.



De acordo com o pesquisador, a ameaça de extinção está relacionada à perda de habitats. Toda a área onde ocorreu a descoberta está degradada, devido às plantações de arroz, soja e trigo. ;A espécie está restrita a uma área de apenas um hectare;. Ela está completamente isolada, e tem uma matriz, no seu entorno, dominada por lavouras, disse.

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