Ciência e Saúde

Menos ofensivo: vírus HIV está reduzindo multiplicação no organismo humano

Trata-se, contudo, de uma estratégia do micro-organismo para sobreviver, e não de um sinal de que ele se tornará inofensivo

Bruna Sensêve
postado em 02/12/2014 06:07
A evolução da epidemia do HIV fez com que a infecção pelo vírus se transformasse hoje, em muitos países, em uma doença crônica controlável. Essa vitória é resultado de pesquisas incansáveis na busca por vacinas e tratamentos que decifrem e destruam um dos micro-organismos mais letais que a humanidade já conheceu. Porém, não foi só o homem que se mexeu nessa história. O próprio HIV está, por conta própria, diminuindo seu potencial viral, conforme mostra um novo estudo de pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Isso não significa que o invasor deixará de ser fatal se não for tratado, mas mostra que ele vem obedecendo a uma ordem conhecida e importante para todos os organismos infecciosos: a preservação de seu hospedeiro.

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A condição pode parecer estranha, mas é bastante lógica. Não é favorável para um patógeno que o organismo que o abriga ; no caso do vírus HIV, o corpo humano ; morra imediatamente após a infecção. Pelo contrário, é vantajoso que o invasor possa se manter o maior tempo possível em um hospedeiro saudável, aumentando assim o tempo disponível para transmissão a outros. Mesmo assim, a descoberta é surpreendente para os especialistas, pois esse tipo de evolução não era esperada para o HIV, uma vez que é justamente a alta carga viral dele (sua presença em grande quantidade) que o torna mais transmissível.



A descoberta dos britânicos evidencia, portanto, uma espécie de ;dilema viral;. Se o HIV mantivesse a carga alta, teria mais chances de passar adiante. No entanto, comportando-se assim, poderia matar o organismo hospedeiro muito rapidamente, reduzindo essa probabilidade. Os cientistas autores do trabalho, publicado na revista Pnas, estimam, então, que o micro-organismo encontre uma regulação ótima, de equilíbrio, em torno de 30 mil cópias para cada ml de sangue. ;Esse é um índice suficientemente alto para proporcionar uma possibilidade razoável de transmissão e suficientemente baixo para proporcionar a sobrevivência a longo prazo do hospedeiro antes da progressão para a doença;, explica o professor Philip Goulder, líder da pesquisa.

Hipóteses

Goulder conta que o estudo considerou dois processos que podem explicar como se deu essa mudança de virulência do HIV. O primeiro seria uma adaptação natural do patógeno para fugir das defesas do sistema imune humano. As moléculas de defesa do organismo expressas pelos genes HLA acionam um mecanismo importante, que é a capacidade de direcionar linfócitos T citotóxicos (CTLs) para lutar contra células infectadas pelo HIV. O vírus só conseguiria fugir dessa arma do organismo humano por meio de mutações que, ao mesmo tempo, diminuíram sua virulência. ;Assim, ainda que algumas respostas imunes tenham perdido a potência, a capacidade do vírus de se replicar pode ser substancialmente comprometida;, escrevem os autores. Segundo a equipe, essa mutações podem ser transmitidas e acumuladas na população, como já foi registrado na população japonesa.

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