Ciência e Saúde

Comprovado: esqueleto encontrado sob estacionamento pertence a rei inglês

Exames genéticos mostram que esqueleto encontrado sob estacionamento é mesmo do rei inglês Ricardo III. O estudo, porém, revela a ocorrência de falsa paternidade na linhagem real em algum ponto da história. Com isso, monarcas como Henrique VIII e Elizabeth I podiam não ter direito ao trono

Isabela de Oliveira
postado em 03/12/2014 06:07
Uma equipe internacional de cientistas anunciou na revista Nature Communications a conclusão de um caso que aguardava resposta há 529 anos. Testes genéticos confirmaram que um esqueleto encontrado abaixo de um estacionamento em Leicester, na Inglaterra, realmente era do rei Ricardo III. Além de assegurar com certeza a identidade do monarca, que até então era uma suspeita consolidada, os resultados desafiam a legitimidade de representantes passados da linhagem real, indicando possíveis casos de infidelidade em gerações antigas da realeza britânica.

O time liderado por Turi King, pesquisadora da Universidade de Leicester, analisou todas as evidências genéticas disponíveis na ossada de Ricardo III, encontrada em 2012 (veja Linha do tempo). ;Calculando as probabilidades, encontraram-se evidências que confirmam em 99,9% que este realmente é o esqueleto de Ricardo III;, diz King, chamando os resultados de ;evidências emocionantes sobre a veracidade da identidade dos restos mortais;.

Os marcadores genéticos também foram utilizados para determinar que o monarca era loiro e tinha olhos azuis. As chances para cada característica são de 96% e 77%, respectivamente. ;Os cabelos deviam ser loiros pelo menos na infância, e podem ter ficado mais escuros com o tempo;, diz King, frisando que essa descoberta é importante porque todos os retratos já feitos do rei datam de 25 a 30 anos após sua morte.

Descendentes
A pesquisadora conta que confirmar a identidade de um personagem histórico a partir de sua ossada não é uma tarefa que os arqueólogos estão acostumados a fazer. ;Tratamos isso, de certa forma, como o caso de uma pessoa desaparecida. Nós sabíamos que era muito provável que os restos de Ricardo III estivessem no monastério de Greyfriars, e lá encontramos restos de uma pessoa que poderia ser ele;, conta.

Clarice Sampaio Alho, coordenadora do Laboratório de Genética Humana e Molecular da PUC-RS, explica as técnicas de análise do DNA de restos mortais

Que tipo de informações uma ossada pode fornecer?
Analisamos os ossos da face e arcada dentária para procurar próteses e ausência de dentes e, assim, conseguimos eliminar ou sugerir de quem eles são. Medidas dos ossos do crânio dão informações fidedignas sobre o gênero e idade da pessoa. Também inferimos, com menos certeza, a etnia: se é de origem africana, ameríndia, asiática ou europeia. Entretanto, mesmo que juntas, essas não são evidências fortes e, por isso, partimos para o DNA. Como os ossos podem se deteriorar com o tempo, procuramos o tecido medular de maior calibre, ou cartilagens. No caso dos ossos muito antigos, a melhor opção é o dente, que é o elemento mais duro do corpo humano. Esse material pode ser fatiado e transformado em pó e, com processos de obtenção de DNA, conseguimos ter certeza sobre o sexo biológico da pessoa e até mesmo a aparência ; etnia, tom da pele e cor do olho, por exemplo. No Brasil, porém, isso não é perfeitamente confiável, pois a população é muito miscigenada.

Como a pessoa pode ser localizada ou identificada só com o DNA?
O DNA coletado é chamado de material questionado. Buscamos amostras de referência para compará-lo. Uma amostra direta é coletada, por exemplo, na casa da pessoa desaparecida. Pode ser a escova de dente, que não costuma ser compartilhada. Também pode ser indireta, que, no caso, é uma comparação com o DNA de parentes. É possível trabalhar com qualquer grau de parentesco, desde que tenhamos certeza de que são parentes. Além de Ricardo III, um exemplo é o do presidente americano Thomas Jefferson. A história contava que ele tinha uma namorada que era escrava, paralela ao casamento tradicional, e que eles tiveram um filho. Agora, na nossa época atual, sete gerações após o presidente, foi possível confirmar que aquele indivíduo era, realmente, filho do presidente.

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