Ciência e Saúde

Componente do mal: propensão para o crime pode ser genética, aponta estudo

Pesquisadores alertam que a biologia é apenas um dos fatores que moldam o homem, também fortemente influenciado pela psicologia e pela criação

Isabela de Oliveira
postado em 07/12/2014 08:00
Pesquisadores alertam que a biologia é apenas um dos fatores que moldam o homem, também fortemente influenciado pela psicologia e pela criação O avanço da genética na compreensão de doenças humanas inspira uma corrente cada vez maior de pesquisadores a apostarem nessa ciência para explicar a origem de comportamentos sociais inaceitáveis, especialmente o criminoso. Uma das tentativas mais recentes nesse sentido encontrou ligação entre traços específicos de DNA e a propensão que uma pessoa pode ter para cometer um crime violento. De acordo com a pesquisa, conduzida pelo Instituto Karolinska, na Suécia, os genes MAOA e CDH13 estão presentes em até 10% dos criminosos violentos e chegam a aumentar 13 vezes os riscos de uma pessoa ser violenta. Esse genótipo, entretanto, não é tão frequente nos condenados por infrações de menor potencial e muito menos na população em geral.

Apesar de os resultados do estudo, publicados recentemente na revista especializada Molecular Psychiatry, reforçarem que a genética desenvolve papel no comportamento violento, os próprios autores advertem que os dois genes não podem ser considerados determinantes da criminalidade. Isso porque, eles dizem, a maioria das pessoas que possuem MAOA ou CDH13, ou ambos, não infringem a lei. A conduta é multifatorial. ;O comportamento criminoso é um fenômeno complexo, moldado tanto por fatores genéticos quanto ambientais;, diz Jari Tiihonen, principal autor do estudo.

A pesquisa de Tiihonen consistiu na investigação do DNA de quase 900 encarcerados em 19 das maiores prisões finlandesas. Alguns deles foram condenados por crimes leves, como tráfico de drogas, enquanto outros eram autores de homicídios, entre outros crimes graves. Antes de tiraram qualquer conclusão, os pesquisadores compararam os genes encontrados nos criminosos com os da população de finlandeses. Com isso, identificaram duas variantes genéticas nas pessoas com comportamento extremamente violento.

A primeira delas foi no gene MAOA, a monoamina oxidase A. Desde o início, o MAOA ; apelidado de ;gene da guerra; devido à sua associação com o ímpeto agressivo ; foi o candidato favorito do rastreamento. Tiihonen, na realidade, não o descobriu. As primeiras evidências dessa relação apareceram no início da década de 1990, com um estudo de Han Brunner, então pesquisador do Hospital Universitário Nijmegen, na Holanda.

Após exames genético-molecuralres, Brunner descreveu a presença de uma mutação do MAOA em homens de uma família holandesa, todos com problemas mentais e graves desvios de comportamento como piromania, impulsividade, comportamento suicida e tentativa de estupro. A variante se expressava diminuindo a atividade do gene, que é encarregado de degradar dopamina e serotonina. Assim, evita que esses neurotransmissores ; que influenciam o humor e aprendizado, entre outras funções ; se acumulem e gerem reações indesejadas.

Questões
Após comparar o DNA dos presos violentos, não violentos e população geral, os pesquisadores descobriram que os condenados por infrações leves tinham mais tendência a possuir um MAOA disfuncional do que os finlandeses comuns. Os violentos, por outro lado, eram mais propensos ainda do que os dois outros grupos. Eles também apresentaram uma maior prevalência de variantes no CDH13, um gene envolvido na comunicação entre os neurônios.

Para Tiihonen, o trabalho confirma a ideia de que alguns alelos de determinados genes têm relação com o comportamento violento. Entretanto, ao contrário de ser uma resposta definitiva para as várias questões envolvidas na biologia do comportamento agressivo, a conclusão levanta mais perguntas. Isso porque cerca de metade da população geral possui alguma variante de baixa atividade do MAOA. Entretanto, a maioria não constitui o grupo de criminosos violentos. Por quê? Tiihonen não sabe, mas propõe algumas hipóteses.

;A maioria de todos os crimes violentos graves na Finlândia são cometidos sob a influência de álcool ou anfetamina, drogas que induzem um aumento transitório dos níveis de dopamina no cérebro;, diz. ;Portanto, é lógico supor que metabolismo baixo da dopamina devido à variação de baixa atividade do MAOA possa resultar em maior nível de agressão nas intoxicações por álcool ou outro estimulante;, sugere autor.

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